Tranquilo... Abre los Ojos
Ervas daninhas a alastrar - Eduardo F. - 24.12.2007
La verdad?
Puede ser que no la suportaras.
Puede ser que no la suportaras.
Acabo de rever "Abre los Ojos", de Alejandro Amenábar, filme capaaz de nos ensinar a dúvida tão bem como as aulas de filosofia sobre o discurso do método cartesiano.
A acção desenrola-se em Madrid e o filme mostra-nos algumas paisagens (o que é a paisagem? Tem de ser uma "mirada ampla", um olhar sobre um espaço aberto?) que nos ajudam a formar uma determinada (ou esbatida e diáfana?) imagem da capital espanhola. Um dos aspectos que nos é dado a ver e que retive foi o das montanhas, lá ao fundo, a toda a volta da cidade. Outro, traço já mais consolidado na minha imagem mental, é o dos pavimentos. Nunca estive em Madrid, mas li que os pavimentos são alvo de grande atenção por parte dos pensadores do espaço urbano (e em Barcelona há inúmeros exemplos que o corroboram), que, com os diferentes materiais, suas disposições, desenhos e mobiliário pretendem criar identidades e lugares (entendidos como áreas, localizadas e delimitadas, distinguíveis de outros que lhes contactam ou não).
O que é a realidade? Neste momento em que escrevo e neste contexto a realidade é a possibilidade que nos é oferecida de identificarmos coisas, atribuirmos significados às coisas. O maniqueismo cesarioverdiano (aquele que opõe a cidade opressiva ao campo luminoso e libertador) por nós usado para compreendermos o mundo que nos rodeia já não chega, cai por terra em determinados casos (as abcissas espaço x tempo). Já não sabemos distinguir o que é do que não é urbano. Isso não foi pensado, nem, por consequência, e muito menos, transposto para a realidade física. As realidades amalgamam-se, numa desordem que confunde os sentidos. A desordem é aparente, dirão alguns, para lá já da visão redutora das oposições e antinómios.
Talvez a realidade seja cada vez mais aquilo que vemos e não seja ainda aquilo que interpretamos. As gruas e o chão onde elas se apoiam parecem-me o mais real de todo o espectáculo do mundo. Mas de tudo isso salda-se uma paisagem disforme, amorfa, igual a tantas outras, repelente da afectividade e de uma vivência digna de seres racionais.
Pode ser que as maneiras como ocupamos (como nos ensinam a ocuparmos) o nosso tempo correspondam à vida suspensa. E não vejamos como o betão e o alcatrão fornicam escandalosamente com os poderes que nos regulam e com o espaço livre e vital onde o ar e as cores não estão rarefeitos.
Pode ser que as estradas - que sempre abrem caminho às rodas e engrenagens - as gruas e os andaimes, usados para construir, estejam a ser usados para implodir em nós a ideia de espaço equilibrado, saudável, sustentável, cívico que - quando a vida não está suspensa, por fios, cabos ou correntes - queremos para viver.
Pode ser?
Pode ser que as estradas - que sempre abrem caminho às rodas e engrenagens - as gruas e os andaimes, usados para construir, estejam a ser usados para implodir em nós a ideia de espaço equilibrado, saudável, sustentável, cívico que - quando a vida não está suspensa, por fios, cabos ou correntes - queremos para viver.
Pode ser?
"O pesadelo em que vives foste tu quem o criou"
Enquanto sonhávamos.
Enquanto sonhávamos.
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