Ano novo vida nova?

É proibido proibir
Famigerada frase manifesto do Maio de 68

Cortesia Inimigo Público suplemento do Público de 4 Janeiro 08

Não me parece. Soubemos esta semana, de mansinho, para não incomodar as hostes em saída de festa, que o ano transacto foi negríssimo para as empresas portuguesas (grande parte no Norte do país). Sem embargo, representou um recorde no que toca a encerramento (falência) de unidades. Certamente 2008 só poderá ser melhor, visto já não existirem muitas para encerrar.

Este início de ano trouxe-nos, também, um aumento generalizado dos preços, acompanhado pela subida “mítica” do petróleo até aos 100 dólares o barril. Como curiosidade diligenciei um pequeno estudo comparativo com os nosso vizinhos Espanhóis e concluí, não sem pasmo que, para além dos combustíveis, electricidade, preços em mercearia (mais económicos - o costume) e o facto de possuírem menos carros e telemóveis por família (ou pessoa) e comprarem menos casas, ainda se verifica um estranho fenómeno de aproximação. É com pena que apuro que essa aproximação ocorre não pela subida do nosso poder real de compra, ou aumento significativo dos salários, não, não, mas porque os nossos preços (hotelaria, restauração, livros, discos, bla, bla) sobem, esticam-se sofregamente para acompanhar nuestros hermanos. É assim a Ibéria.

Começamos igualmente o ano com a conhecida (eufemisticamente falando) lei do tabaco, mais uma interdição sem proibição. De acordo, os tipos preocupam-se connosco. De acordo. Mas com decoro. Sem mentir. Não obstante o referido (em geral bem) em post anterior da autoria do meu amigo Rogermad, acrescente-se algumas reflexões para a fogueira. Já conhecia a lei, eu, e mais quantos? Alguns, bem o sei, porque os conheço, fartaram-se de tentar apurar, depurar, reflectir e até debater em conjunto a dita. Os parâmetros, bem, são acessíveis(?), claramente. Mais uma vez fui ao vizinho (aliás, várias vezes). É um facto: não se fuma em locais públicos fechados (embora estes tenham sempre um reservado para fumadores), não se fuma nos locais de trabalho e outros equiparados, etc, etc. Mas quando chegamos, à restauração, cafés e bares, verificamos que (pelo menos) em 40 a 50% destes (com menos de 50m2 e não só ) é permitido fumar, cabendo ao proprietário a decisão (sem grandes burocracias, obras ou hipocrisias). E cabe-nos a nós, amigos, depois escolher onde vamos. Direito ou oportunidade de escolha.

O que a mim me caceteia é esta morrinha crescente de proibições, arrogância, superioridade moral, perseguições mesquinhas, do cartão único e do sorria está a ser filmado. O que me chateia é pensarem por mim e o “que é melhor para mim?”. E não sou o único. Helena Matos (uma liberal de direita, logo, nos meus antípodas), que não consta ser fumadora, refere-se no Público de 3 Janeiro a algo que seria uma anedota (bem, nem há 40 anos seria possível), ou pelo menos ridículo, informando-nos que a policia andava atrás de fumadores (esses criminosos) e cito “Aos mesmos cafés onde não aparece em caso de assalto [ou pancadaria, acrescento eu] ocorrem para levantar autos por causa de uns cigarros. Loucura governamental? Nem pensar. Não só os ladrões não costumam pagar multas, como todo este totalitarismo sanitário nos reduz de cidadãos livres em criaturas de tal modo atarantadas com a lei que confundem cidadania com correcto índice de massa corporal”. Não irá também contra o direito de propriedade e liberdades individuais? Como se referia um destes dias um amigo advogado, “ o que vale neste país é que ninguém se apercebe que tem direitos, senão…”. Mas tem.

Para além disso, o fundamentalismo (perdão as leis) não é para todos. O Sr. Director da ASAE pode fumar às tantas da manhã. Mas em casinos, claro.

O que realmente me repugna é discutir-se tudo isto como a coisa mais relevante do mundo. No país da ribeira dos milagres (já contaram as descargas poluentes no ano de 2007?), no mesmo país onde se despejam electrodomésticos nos caminhos e nas bouças, onde se acama carne podre no papelão( aconteceu em Braga), no país onde qualquer miúdo (com menos de 18 anos) bebe álcool nos bares e discotecas e (como aconteceu comigo no passado) se não os servirmos são os”adultos” que se insurgem.

“Serve lá o puto que já é um homem”. No país do 1.6 gr de álcool no sangue a ultrapassar pela direita a 180km/h, onde não se respeitam sinais de trânsito, passagens de peões, e se cospe para o ar nunca para o chão. Num país meus amigos, onde a Caixa Geral de Depósitos (banco do estado) concede empréstimos ao Sr. Berardo e aliados para comprarem acções do BCP, numa dança politica, nos últimos tempos, que desculpem, dá vontade de vomitar, com semelhante promiscuidade nas nossas barbas (quem é o burro?)…

Este mesmo país de trabalho infantil escondido, do espaço público como WC para animais domésticos, do betão, dos centros comerciais (onde também é proibida a entrada a sem-abrigo, indigentes, ou simplesmente malta que não se assemelhe a um consumidor, nunca repararam?). Um país onde, deveria ser proibido, sim proibido, um ordenado mínimo de 400 Euros e de reformas de 200Euros(??), este pais é o meu, o nosso e isso ninguém pode negar:´”é o que temos”. Será?

Se fumo? Fumo. De acordo, os tipos preocupam-se (!), ou como diria o Amstrong quando pôs o pé na lua “um pequeno passo para a homem, um grande passo para a humanidade.” Sem rir…

Comentários

Anónimo disse…
Dá cá mais cinco!

Agora só faltam mesmo as Manif's!
Rogeriomad disse…
Mais outro desabafo:

Hoje, durante o almoço, uma senhora com a sua meia idade estava na mesa ao lado a discutir com a proprietária do estabelecimento (na sequência da notícia que estava a dar na TV sobre a cigarrilha do director da ASAE) sobre a maldita (para alguns) lei...

Vira-se a senhora:
- Isto não há direitos! Será que os fumadores não têm o direito de fumar onde querem? Que descriminação... Não se aceita a descriminação racial nem de género, mas aceita-se descriminarem os fumdadores. Faz algum sentido?

Viro-me eu:
Faz todo o sentido.
Você gosta de fumar? Tem prazer nisso?

-Sim.

- Pois eu também tenho prazer em estimular-me sexualmente e, no entanto, só o faço no meu quarto...
sem incomodar ninguém.

Com o exemplo ridículo que dei... quis mostrar que ela estava a ser rídicula. A senhora corou e eu passei por mal educado...
No fundo é o que todos os fumadores são quando acendem o cigarro sem perguntar se estão a incomodar. Por uma questão de educação devemos fumar sem incomodar terceiros. Acho que nem devia haver lei... Se fossemos educados... não seria necessário haver qualquer lei...

Continuando...
A prática naturista tem áreas regulamentares definidas... apenas algumas unidades hoteleiras, parques de campismo e praias é aceite o naturismo.
O naturismo incomoda a saúde de terceiros? Não! Então porquê a proibição? Parece-me lógico... Incomoda terceiros? SIM! Então vamos criar áreas proprias para esse efeito...

A pratica da caça tem áreas regulamentares definidas. Será que os caçadores andam aos tiros em tudo o que é canto? Gostavam de ter um "gajo" ao lado sempre aos tiros? Gostavam de ver os animais abatidos sem regras? Sem respeito pela época de reprodução, sem respeito pelas áreas protegidas?

Podia dar-vos vários exemplos de actos subjectivos de vícios, de prazer, etc...

Convém perceber que o acto de fumar será apenas um vício ou de prazer, calmante, passatempo (o que é fumar?) que prejudica a saúde de terceiros. Se prejudica o bem-estar de terceiros devemos interdir e até proibir.
Regulamentar...

Simplesmente isso...

Não há qualquer descriminação...
Nem precisamos entrar em loucuras...

Miguel Sousa Tavares esse senhor que escreve e fala como uma máquina se tratasse... disse algum tempo atrás (Agosto de 2007) na TVI... que pior que o fumo do tabaco é a gritaria das crianças, e para isso não há quem lhes corte o pio...

Nem sei o que chamar a este tipo de pensamentos.
Penso que está tudo dito...


Quanto ao resto...

"Não devemos ficar parados numa faixa só porque a outra não anda..."

Apesar da realidade do país, Portugal nesta matéria devia ser pioneiro. Continuamos a ser os atrasadinhos em tudo...
Depois de todos os países... fazemos aquilo que os outros fazem ou mandam fazer...

Vivemos de "leis importadas..."
Rogeriomad disse…
Ah! E para demonstrar o quanto somos analfabetos... recordo que a lei é de Agosto de 2007... mas que entrou em vigor dia 01.01.2008 para gerar debate e educar as pessoas...

E no entanto, ao fim de 5, 6 meses da publicação da Lei em DR, ainda parece que estamos numa fase de adaptação. É rídiculo!

Mas ok... Devemos ser tolerantes...
Anónimo disse…
Ò Rogerio... mas tu achas que 'eles' querem discussão antes do facto consumado?

Mas somos alguns democratas ou quê?
Rogeriomad disse…
Sim! Portugal é um país soberano e democrático...

Pelo menos aparentemente...
:P

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