"O Silêncio dos Inocentes"

O dia 29 passou.
E ninguém falou.

Eu também cumpri o meu voto de silêncio.
Porque jurei amor eterno à desmemória,
à inconsciência,
à ignorância,
à estupidez,
ao bulício,
ao rodopio,
ao carrossel,
ao ocultismo.

Mas o silêncio irá bater-me à porta
em forma de tempestades,
secas de outros lagos Chades e outros mares Cáspios,
cheias de Galizas, Portugais, Vietnames, Sri Lankas e Indonésias,
afogamentos de outros ursos polares,
águas coloridas de outros Mediterrâneos,
descolorações de outros corais e paisagens,
extinções de outros bacalhaus (que festim!),
árvores que devorarão incêndios,
ventos de Alentejos sub-sarianos,
luzes excessivas de outras cidades,
picadas de mosquitos de outras Áfricas,
bateres de asas de borboletas que sobem para outras latitudes,
bicos calados de aves que não voltam,
e aves presas em amálgamas de outros chapapotes,
filmes sobre outros dinossauros,
documentários de animais que partiram,
ecos de memórias desprovidas de realidade...

Restam-me as moscas,
pequenos e insignificantes insectos
que me farão companhia
até ser só pele e osso.

Tratai do vosso futuro.
Saíde da feira popular
e dos centros comerciais.
E vereis erguerem-se de novo
glaciares e habitats perdidos.

Se demora,
que esperais?

Comentários

Anónimo disse…
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