Imprensa do dia (18): andar de bicicleta é fixe?
Algumas considerações. Ficamos a saber que professora Beatriz Pereira (supostamente) conhecerá a realidade nórdica, isto é, a sua estrutura urbana e respectiva subestrutura (rodo)viária, a possibilidade de transportar as bicicletas nos transportes públicos e de as estacionar facilmente, e enfim, o facto relevante de a bicicleta ser um meio de transporte efectivo, válido como qualquer outro, e como tal considerado, há muitos anos. E não só nos países nórdicos.
Ficamos, no entanto, sem saber se a professora Beatriz Pereira é uma utilizadora da bicicleta, como meio de transporte nas suas deslocações habituais para o trabalho ou outras, ou se o faz por lazer ou para fazer exercício. E já agora, ficamos sem saber, se o faz de forma frequente, por exemplo, na cidade de Braga, já que afirma que “onde circula um automóvel pode circular uma mota ou uma bicicleta, basta haver uma cultura de respeito pelo outro”.
Faço aqui uma declaração de interesses: sou um utilizador da bicicleta como (mais um) meio de deslocação/transporte, de forma mais ou menos regular, na cidade de Braga. Compreendendo a perspectiva e a importância da actividade física nas rotinas diárias de alunos ou de quaisquer outros, aliás, eu próprio sempre me desloquei para a escola a pé, teremos que enquadrar esta situação no espaço geográfico e sociológico em que ocorre.
Deslocar-se de bicicleta na cidade Braga não é, de todo, coisa fácil, ou mesmo aconselhável. Não apenas por falta de “trajetos velocipédicos ou acessos especiais”, que de facto não existem, a não ser a famosa pista em Lamaçães (que apenas serve para umas passeatas e algum exercício, nem sempre em bicicleta), mas porque a estrutura urbana de Braga não está, de forma alguma, pensada para outra coisa que não seja o automóvel (nem sequer para o transporte público), e mesmo para o automóvel é questionável.
A não ser que o passeio se resuma ao centro pedonal, e mesmo nesse caso particular, passível de algumas surpresas desagradáveis com peões, todo o resto é um exercício de destreza e coragem: circular nos passeios (quando não estão automóveis estacionados); superar viadutos e passagens áreas; passar nos interstícios dos prédios e por atalhos; circular no meio dos automóveis com a cabeça a prémio; andar em contramão (isso não existe em Braga para bicicletas); carregar a bicla às costas e subir e descer escadarias; estacionar a dita com cadeado agarrado a uma calha; tentar imaginar o que pensa o peão ou o automobilista em cada situação (a bicicleta pode ser encarada de diversas maneiras e (des)respeitada de outras tantas); já para não falar de tentar circular…na circular urbana. Enfim, o problema é o papel da bicicleta, os direitos e deveres do ciclista na estrada, a ausência de sinalização específica, etc. Um indivíduo de bicicleta não é olhado nunca (ou é muito raramente) como um motociclista, quando muito como um ciclista a passear. E verdade seja dita, não se comporta em conformidade. Agora imaginem com miúdos?
A bicicleta tem que ser encarada por todos como um meio de transporte (não esquecendo o lazer e o exercício), como mais uma alternativa, não apenas porque é fixe ou especial, mas simplesmente…normal. E para isso…
[voltaremos ao assunto bicicletas x transportes públicos + automóveis]
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