"A Sociedade do Espectáculo", de Guy Debord
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Título: A Sociedade do Espectáculo
Edição Original: La societé du spectacule (1967)
Autor: Guy Debord
Tradução: Francisco Alves e Afonso Monteiro
Edição: Abril de 2012
Editora: Antígona
ISBN: 978-972-608-222-4
30
Paginação: 137 páginas
Publicada em 1967, A Sociedade do Espectáculoé a obra filosófica e política mais famosa de Guy Debord e uma análise impiedosa da invasão de todos os aspectos do quotidiano pelo capitalismo moderno. O espectáculo, segundo o autor, «uma droga para escravos» que empobrece a verdadeira qualidade da vida, é apontado como uma imagem invertida da sociedade desejável, na qual as relações entre as mercadorias suplantaram os laços que unem as pessoas, conferindo-se a primazia à identificação passiva, em detrimento da genuína actividade.
(da apresentação, na página da editora)
A páginas tantas de um dos seus livros (talvez este), Lipovetsky falava da quota parte que representava o mercado do entretenimento nos Estados Unidos dizendo, segundo julgo lembrar-me, que era o que mais contribuía para a economia.
Já em 1967, há mais de 40 anos daquele livro, Debord abordava este tema. Segundo podemos ler no número 193:
A cultura integralmente convertida em mercadoria deve tornar-se também a mercadoria-vedeta da sociedade espectacular. Clark Kerr, um dos ideólogos mais avançados desta tendência, calculou que o complexo processo de produção, distribuição e consumo dos conhecimentos açambarca já anualmente 20% do produto nacional dos Estados Unidos; e prevê que a cultura desempenhe na segunda metade deste século o papel-motor no desenvolvimento da economia, que foi o do automóvel na sua primeira metade, e o dos caminhos-de-ferro na segunda metade do século precedente.
(p.123)
Ao longo dos últimos dias temos vindo a transcrever passagens deste, no mínimo, actualíssimo manifesto crítico.
Se tudo está intermediado, inclusive este texto que está o amigo agora a persistir em ler...
a) porque estamos afastados
b) porque privilegiamos esta forma de comunicação
c) porque cremos que esta forma de comunicação chega a mais pessoas
d) porque ainda cremos na comunicação e na nossa função de mais que objectos
e) porque os laços...
... os laços estão a manter-se frouxos e nós estamos em lado nenhum.
A ver o desenrolar dos acontecimentos cuja cadência não controlamos nem cuja veracidade podemos verificar...
...porque
...tudo está intermediado.
E talvez não seja por acaso este ponto vir citado na contracapa do livro, mas parece-nos a melhor síntese dos tempos pós-isto pós-aquilo em que não estamos a viver:
A alienação do espectador em proveito do objecto contemplado (que é o resultado da sua própria actividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende a sua existência e o seu próprio desejo. A exterioridade do espectáculo em relação ao homem activo revela-se no facto de os seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que lhos representa. Eis porque o espectador não se sente em casa em nenhum lugar, porque o espectáculo está em toda a parte.
E se a cultura do capital privilegia a separação, tal como destruirá tudo o que é colectivo, sabemos qual o caminho a não seguir.
Façamo-lo!
Estamos a perder...
...-nos.
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