A Roda que Gira por si Mesma
Trandeiras, Braga - Maio de 2007
Ah, pois é: aí vem a época em que costuma haver as festas do fogo solto. Festas mais comuns no norte que no sul do país, diga-se. Factores históricos, sociais e económicos... blá, blá, blá... E já agora, "diz que" factores naturais também andem aí metidos. Talvez...
Os bombeiros? São voluntários. Os incendiários também. Desde que lhes paguem, claro. Ou se forem os próprios a apanhar as canas.
A montagem com as duas fotos que acima se vêem põe, lado a lado, duas paisagens distintas de um mesmo monte. Sendo que uma foi captada a poucos metros da outra.
Pistas para ler as paisagens:
1 - A da direita mostra uma zona de carvalhos e sobreiros; o chão está atapetado de ervas. A sombra e a temperatura são agradáveis. Espaços como estes estão associados a uma maior humidade relativa. E - pista não menos importante - não foi atingida pelo fogo posto do ano passado. Desconhecemos se por capricho do fogo ou escrúpulo dos incendiários.
2 - A da esquerda mostra-nos uma das partes afectadas. O chão está desprotegido, o que, com a chuva, facilita a erosão hídrica e a perda daquilo que nos sustenta: o solo. Há eucaliptos a proliferar, galinha dos ovos de ouro de alguns e desgraça de todos. Óbvio que,
se arderam e caíram,
ou se arderam e só os ramos ficaram,
ou se arderam ou cortaram,
ou se arderam e cortaram,
ou se queimaram para cortar,
não há sombra e o sol bate com a força que tiver.
Floresta? Quando temos áreas razoáveis com mais que duas espécies arborícolas, aí sim temos floresta. A presença de acácias em Portugal é sintoma de desordenamento, de desmazelo e desrespeito pelo ambiente, de interesses económicos que dão milhões a meia-dúzia de empresários, de falta de uma estratégia para o mundo rural (seja ela qual for), que pauperiza as populações e as "empurra" para ganhos com essa cultura. Além disto, num país mediterrânico, acácias significam - coisa que poucos preocupa, porque somos mal educados - poluição biológica.
Será que há uma relação entre as espécies e as áreas ardidas, ou com propensão para arder? (Os estudos de engenheiros florestais e os biólogos di-lo-ão. Eu, por mim, assisti a um incêndio que se deparou com dificuldades em tragar um sobreiro).
E, depois, será que há uma relação entre as áreas ardidas e novos rebentos (de árvores e/ou de cimento e betão) ? (Obrigado, governo socrático que já não impede que se construa durante um período de 10 anos após o sinistro).
Em suma, incêndios semeam mais incêndios. Entre um incêndio e o seguinte, ao contrário do que os nossos irmãos galegos começaram logo a fazer após a conspiração do ano passado, os montes aguardam a sua vez.
Está descoberta a roda! E gira! E gira, e gira, e gira...
Até ver.
Até deixar de haver.
Até nos começarmos a mexer.
Comentários
ahahah