Por onde vamos?

No "documentário-filme" Uma Verdade Inconveniente, às tantas, Al Gore mostra uma imagem que foi mostrada numa conferência do Congresso americano (isto nos princípios dos anos 90) em que - maniquísmo já tradicional na linguagem dos políticos conservadores daquele conjunto de nações - aparecia uma balança. (A conferência do Rio estava em cima da mesa e os EUA tinham de definir a sua política económica interna):

De um lado da balança estão 3 barras de ouro ("Humm... gold bars! Humm...", diz Al Gore, num dos (poucos) momentos divertidos do filme) e no outro prato está uma representação, à escala, do planeta Terra.

Os comentários subsequentes deixo-os para a memória de quem já viu o filme, ou, para quem não viu, para reflectir (agora vai passar a ser "refletir"...) um bocadinho sobre alguns valores (em poucas palavras, de um lado está o imediatismo, do outro a sustentabilidade).

(Em breve viremos cá falar um bocadinho de Uma Verdade Inconveniente)

Sempre achei absurdo quem defende que primeiro vamos desenvolver e depois tratamos do resto. E quando o "resto" é algo que pode pôr / põe o "desenvolver" em causa, então o absurdo atinge o paroxismo.
É como querer enxaguar o chão com um pano que vai absorvendo a água que continua a jorrar duma torneira que ainda não aprendemos a fechar.

Ou seja, há quem defenda que o que se faz e implanta deve respeitar certos princípios e valores. E depois, apercebendo-se de que há outros princípios, em grande medida (mas não completamente) antagónicos, eles lá arranjam forma de compatibilizar ambos. Quando um deles sai claramente a perder, pode-se dizer que não houve um planeamento eficaz. O que costuma ficar à vista é uma asneirada da grossa. E quando as asneiras grassam, após provocar o riso, costumam passar despercebidas.
É um exemplo desses que venho ilustrar hoje. À vista de toda a gente. Mas como sabemos que a nossa percepção é alterada pelo nosso posto, lá vão tornando-se invisíveis.

Ver melhor para acreditar
Foto de Eduardo F. - Fraião, 24.12.2007

A imagem retrata uma passadeira numa via circular periférica à parte este da cidade (Avenida Dom João II, maioritariamente localizada em Fraião, por trás do eixo onde se localizam quase todas as grandes superfícies comerciais de Braga). Por ela os automóveis costumam passar a velocidades médias superiores a 40 km/h (sei lá, digo eu!).
Outro factor importante: não há muitas moradias nas proximidades imediatas. Pelo que poucas pessoas devem, de facto, utilizar esta via para se deslocar a pé.

SÓ QUE... pormenor ainda mais importante e pertinente: esta circular está "provida" de ciclovia (sim, aquela pista verde que podeis ver na foto...). E, os bracarenses e não só sabem-no, a grande extensão da circular é muito usada como percurso de manutenção (é ver dezenas de pessoas, de bicileta ou a pé, de manhã, à tarde e de noite, num andamento mais ou menos acelerado. Sobretudo aos fins-de-semana).

Esta passadeira é logo das primeiras da avenida (em direcção a norte) e o grosso dos viandantes costuma virar logo para a / pela Av. Robert Smith (até porque se vierem para Sul o caminho puxa um bocadinho, e isso cansa...). Mas pelo que me lembro, quase todas as passadeiras ao longo dela padecem deste erro.

Bem... recentrando-me no que me trouxe cá hoje, queria dizer que o tal "planeamentozinho" pensou no automóvel. Depois, como que caída mais ou menos de pára-quedas, lá puseram a ciclovia (desde a Av. da Falperra até à Rua Luís António Correia são cerca de 2,3 kms para andar) e, já agora, não nos esqueçamos dos peões.

Bastava não ter projectado a "área verde" até à estrada e já não se cometiam atropelos destes. O verde não é muito significativo, mas ter de o pisar (quem anda de cadeira de rodas não põe lá os pés, isso é certo) é sintomático dos valores que regulam a cabeça pequenina de quem nos vai oferecendo os espaços em que vivemos.

Comentários

Anónimo disse…
Nós por cá... as câmaras municipais deste país devereriam contratar pessoas com conhecimentos na matéria e n\ao só quem tira licenciaturas em tachos.

O que está a mais nessa foto é o alcatrão e o separador central deveria antes ser um jardim.

Não construam estradas, plantem árvores!
Rogeriomad disse…
ahah

Estive 4 dias em viagem e vi muitas coisas destas...

É triste...

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