Ameaças Biológicas
Ameaças Biológicas
Crónica do quotidiano
(A propósito da minha ida às finanças.)
Aguardava a minha vez, e deu-me para olhar os papéis que normalmente se afixam nos estabelecimentos públicos. Havia um que alertava para correio suspeito. A circular datava, salvo erro, de 2002. Dizia mais ou menos o seguinte:
"Se receber um carta...
a) proveniente do estrangeiro
b) com muitos selos
c) com uma caligrafia péssima
d) com pedaços de metal a sair do envelope
e) se o envelope tiver um cheiro estranho
f) se o envelope for pesado e volumoso
...
contacte a PSP e descreva a situação.
Aguarde a chegada dos agentes sem abrir o envelope."
Um comunicado destes decorria, parece-me, da senda de alarmismos pós 11 de Setembro (o de 2001, que o de 73 não é aqui chamado).
Os biólogos sabem-no e bem o alertam: há espécies animais e vegetais que invadem territórios até então estranhos e cujas consequências se enquadram nas seguintes hipóteses:
a) benéficas
b) prejudiciais
c) inócuas
Um exemplo que cai na alínea a) é a introdução da batata no continente europeu nos finais do século XVI. Por cá comia-se castanha, antes de a batata se expandir. Hoje há batatais em muitas regiões do país. E daí não parece ter vindo mal ao mundo...
Bem... o abuso - como em tudo - das batatas fritas não é coisa lá muito saudável. E a produção em série, a falta de tempo para almoçar e a proliferação de restaurantes de comida rápida ajudaram a mudar a nossa fisionomia. E as estatísticas da saúde. E outras coisas mais. (Uma agricultura intensiva tem recorrido a pesticidas e "o corpo é que paga. O NOSSO corpo. estamos a falar de ameaças biológica, mas aqui está um exemplo de ameaça química).
Um exemplo que cai na alínea b), para alternar na espécie, é a introdução do lagostim americano nos cursos de água europeus. Muito resistente à poluição, o lagostim prolifera e - como costuma acontecer - reduz a disponibilidade de alimento para as espécies autóctones. (Não, não estou a demonstrar uma faceta chauvinista ou nacionalista aplicada à biologia.) Veja-se o caso da lagoa de Bertiandos, na qual as (poucas) lontras lá existentes gostam muito deste pitéu. Concluindo: porque a Natureza é evolutiva, as leituras maniqueístas têm sempre de ser feitas com reservas.
De exemplos inócuos
a) desconheço (mas chegue-se à frente quem conhecer)
ou
b) não me apetece falar...
Todos os anos, os animais de estimação exóticos,
a) porque já não têm tanta piada, ou
b) porque cresceram demasiado, ou
c) porque a sua alimentação se tornou demasiado onerosa
...
são lançados no meio natural. (O tráfico ilegal de espécies grassa porque envolve dinheiro, esse material sem cor nem ética que muitos compra)
"Deixai vir a mim... as consequências", diz Deus.
Depois ele (ela) responde-nos torto!
Ora...
Isto veio a propósito da intenção do governo de proibir a importação de algumas raças de cães. A questão é que é a perigosidade das mesmas o motivo de legislação. Perigosidade em relação a efeitos físicos (mordeduras e por aí). Claro. (Não consta ainda que alguém se tenha lembrado de considerar um pitbull uma espécie perigosa para a diversidade biológica das famílias caninas existentes por cá...).
(A propósito da minha ida às finanças.)
Aguardava a minha vez, e deu-me para olhar os papéis que normalmente se afixam nos estabelecimentos públicos. Havia um que alertava para correio suspeito. A circular datava, salvo erro, de 2002. Dizia mais ou menos o seguinte:
"Se receber um carta...
a) proveniente do estrangeiro
b) com muitos selos
c) com uma caligrafia péssima
d) com pedaços de metal a sair do envelope
e) se o envelope tiver um cheiro estranho
f) se o envelope for pesado e volumoso
...
contacte a PSP e descreva a situação.
Aguarde a chegada dos agentes sem abrir o envelope."
Um comunicado destes decorria, parece-me, da senda de alarmismos pós 11 de Setembro (o de 2001, que o de 73 não é aqui chamado).
Os biólogos sabem-no e bem o alertam: há espécies animais e vegetais que invadem territórios até então estranhos e cujas consequências se enquadram nas seguintes hipóteses:
a) benéficas
b) prejudiciais
c) inócuas
Um exemplo que cai na alínea a) é a introdução da batata no continente europeu nos finais do século XVI. Por cá comia-se castanha, antes de a batata se expandir. Hoje há batatais em muitas regiões do país. E daí não parece ter vindo mal ao mundo...
Bem... o abuso - como em tudo - das batatas fritas não é coisa lá muito saudável. E a produção em série, a falta de tempo para almoçar e a proliferação de restaurantes de comida rápida ajudaram a mudar a nossa fisionomia. E as estatísticas da saúde. E outras coisas mais. (Uma agricultura intensiva tem recorrido a pesticidas e "o corpo é que paga. O NOSSO corpo. estamos a falar de ameaças biológica, mas aqui está um exemplo de ameaça química).
Um exemplo que cai na alínea b), para alternar na espécie, é a introdução do lagostim americano nos cursos de água europeus. Muito resistente à poluição, o lagostim prolifera e - como costuma acontecer - reduz a disponibilidade de alimento para as espécies autóctones. (Não, não estou a demonstrar uma faceta chauvinista ou nacionalista aplicada à biologia.) Veja-se o caso da lagoa de Bertiandos, na qual as (poucas) lontras lá existentes gostam muito deste pitéu. Concluindo: porque a Natureza é evolutiva, as leituras maniqueístas têm sempre de ser feitas com reservas.
De exemplos inócuos
a) desconheço (mas chegue-se à frente quem conhecer)
ou
b) não me apetece falar...
Todos os anos, os animais de estimação exóticos,
a) porque já não têm tanta piada, ou
b) porque cresceram demasiado, ou
c) porque a sua alimentação se tornou demasiado onerosa
...
são lançados no meio natural. (O tráfico ilegal de espécies grassa porque envolve dinheiro, esse material sem cor nem ética que muitos compra)
"Deixai vir a mim... as consequências", diz Deus.
Depois ele (ela) responde-nos torto!
Ora...
Isto veio a propósito da intenção do governo de proibir a importação de algumas raças de cães. A questão é que é a perigosidade das mesmas o motivo de legislação. Perigosidade em relação a efeitos físicos (mordeduras e por aí). Claro. (Não consta ainda que alguém se tenha lembrado de considerar um pitbull uma espécie perigosa para a diversidade biológica das famílias caninas existentes por cá...).
Cortesia: Young Reporters for the Environment
Mesmo assim gostava de dizer que:
Nunca passaria pela cabeça de ninguém proibir a espécie Eucalyptus. Ora aí está uma ameaça biológica com que, de norte a sul do país, toda a gente se depara sem pestanejar. (A proliferação de espécies exóticas constitui- já o dissemos e voltamos a dizer - uma forma de poluição.) É gravíssima a indiferença. Como se todos trabalhássemos na indústria do papel. Mesmo aqueles que se vêem ameaçados pela chegada dos fogos às suas casas, durante os habituais incêndios do Verão.
Na biologia como na política,
Contra os totalitarismos, a diversidade!
Enfim...
Fica-se por aqui esta crónica...
Comentários
"E a Portucel abre uma mega fábrica de produção que empregará 1500 portugueses..." (número lançado ao ar por mim, mas também lançado ao ar por quem o lança. E "portugueses", porque fica bem dizê-lo. Se fosse 1500 empregos para estrangeiros vindos do Leste Europeu, estariamos mal) mas... contudo... apesar de... se o governo for mais flexível na legislação da produção de papel... blá blá... e deixar-nos plantar mais matéria-prima... blá blá... senão temos que ir comprar lá fora... blá blá...
Fico muitas vezes emocionado quando vejo "anúncios que anunciam" a oferta de milhares postos de trabalho!!! Lançamento de grandes investimentos em Portugal... Loucura!
São tantos os anúncios que é caso para dizer que termino de ver o telejornal sempre a chorar...
O inicio do teu artigo é "assustador". Se na repartição de finanças de Faro houvesse uma coisa igual, colocaria as dezenas de pessoas, que aguardavam na fila, a rir...
Bom artigo.
Grande abraço!
Rogério
(Eu também achei alguma piada, mas... as frases estavam bem construídas... não sei... )
:)
Levo sempre estes assuntos na descontracção... e recordo-me sempre que, por vezes, na minha casa existem verdadeiros "petardos biológicos"... ;) eheh
Abraço