À solidão da cidade uma outra solidão...

Ó solidão do boi no campo,
Ó solidão do homem a rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.
Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.
Ó solidão do homem no campo,
homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
e as casas não têm sentido algum.
Ó solidão do homem no campo!
O navio-fantasma passa
em silêncio na lua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva...
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.

"O Boi"

(Carlos Drummond de Andrade )

Comentários

Anónimo disse…
Faz falta a poesia nos blogs e em tudo. Como grande apreciador do grande Carlos Drummond de Andrade, muito pouco conhecido em portugal, gostei da iniciativa.
Parabens.
Rogeriomad disse…
Quando deâmbulo pela cidade, mesmo acompanhado, sinto-me assim... solitário!

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