Estes estranhos nomes... (V)
Algures no Algarve à saída de Portimão, há um lugarejo chamado Donalda. Provavelmente foi uma última tentativa desesperada para aliciar os dinheirinhos da Disneylândia. O nome não vem referido nas fontes habituais. O que vem é pouco: uma Margarida (em Marvão) e uma alusão (discreta) ao Tio Patinhas, em Pão Duro (Alcoutim). Desilude qualquer busca no sentido de achar um Mickey ou uma Minnie. Há dois Ratos, um em Barcelos e outro em Famalicão, mas são cruelmente cancelados por duas Ratoeiras, uma em Celorico da Beira e outra em Vila Nova de Gaia. Walt Disney não acharia graça nenhuma. Quanto à pobre Minnie, o melhor é nem falar na ratinha - nem na Ratinha de Portalegre. Onde desaparece a ternura do diminutivo, o efeito é ainda mais insultuoso, como testemunha a Rata em Castelo de Paiva e Rata em Santiago do Cacém. Por estas e por outras é que preferiram construir a Disneylândia em França e não em Portugal, como chegou a ser noticiado. Fica mal nos cartazes: “Venha à Disneylândia, Venha à Rata!” É uma falta de respeito. (Faço aqui uma pausa para que os habitantes habitualmente martirizados com Picha possam dar-se ao luxo de fazer graça a estes seus compatriotas.)
O que é mais irritante é não se poder evitar os nomes dos lugares. Podemos evitar os palavrões e as palavras feias quando falamos e escrevemos, mas somos obrigados a dizer os nomes dos sítios. Há, por exemplo, uma aldeiazinha chamada Fundo da Rameira, no concelho de Vila do Rei. Qualquer conversa acerca deste local é automaticamente obscena. Se alguém perguntar se eu vou ao Fundo da Rameira, o que é que eu posso responder? Que prefiro ficar a meio? Que tenciono somente andar lá à volta? E, mais uma vez, na estrada, é tentar excessivamente um indígena ordinário perguntar-lhe: “Olhe, se faz favor, é capaz de me dizer como é que se vai para o Fundo da Rameira?”. Ele poderá pôr logo em cheque as honras da irmã e da mãe.
(O próximo "estrato" termina esta divertida crónica de MEC, extraída da compilação "Explicações de Português", 2ª ed - Novembro de 2001, Assírio & Alvim, pp. 231-241.)
O que é mais irritante é não se poder evitar os nomes dos lugares. Podemos evitar os palavrões e as palavras feias quando falamos e escrevemos, mas somos obrigados a dizer os nomes dos sítios. Há, por exemplo, uma aldeiazinha chamada Fundo da Rameira, no concelho de Vila do Rei. Qualquer conversa acerca deste local é automaticamente obscena. Se alguém perguntar se eu vou ao Fundo da Rameira, o que é que eu posso responder? Que prefiro ficar a meio? Que tenciono somente andar lá à volta? E, mais uma vez, na estrada, é tentar excessivamente um indígena ordinário perguntar-lhe: “Olhe, se faz favor, é capaz de me dizer como é que se vai para o Fundo da Rameira?”. Ele poderá pôr logo em cheque as honras da irmã e da mãe.
(O próximo "estrato" termina esta divertida crónica de MEC, extraída da compilação "Explicações de Português", 2ª ed - Novembro de 2001, Assírio & Alvim, pp. 231-241.)
Comentários
E claro a tal "Vaginha"!!!!
Obrigado pelo comentário.
Não será RATES?
no concelho de barcelos existe a freguesia "Macieira de Rates" que faz fronteira com a freguesia do concelho de Póvoa de Varzim "São Pedro de Rates"...
Ratos não conheço nem em Barcelos nem em Famalicão,
Mas há por aí outros ratos. Até mesmo ratazanas.
Dario Silva.
Se assim for, o que acredito, é só mais um exemplo de como erros ortográficos podem alterar a nossa percepção do mundo... e depois vem a transissão desses erros a outros, generalizando a "doença".
Obrigado pela correcção.