O último a sair que feche a porta, por favor
Já aqui escrevi inúmeras vezes sobre a destruição
metódica dos caminhos-de-ferro em Portugal, designadamente, nos últimos 20 anos.
Com efeito, o modelo de desenvolvimento (vamos denominar a coisa assim),
relativamente à mobilidade e transportes, num quadro de (des)ordenamento do
território, assentou desde o início da década de 1990 não apenas na construção
de auto-estradas, mas na asfaltonização e betonização total do país. Aos poucos fomos percebendo o porquê.
Os resultados, relativamente à ferrovia, estão bem à
vista, pese todas as tretas megalómanas de projectos para inglês ver e português,
de uma forma ou de outra, pagar. Deixo-vos com este apontamento:
Especialista
diz que ferrovia em Portugal ficou ao nível da Serra Leoa:
“A evolução dos
caminhos-de-ferro portugueses nos últimos 25 anos é a da perda de passageiros.
Somos o único país da Europa que acusa perda consecutiva de passageiros: 44%.
Estamos ao mesmo nível de tráfego de 1970”, diz este professor da Faculdade de
Economia da Universidade do Algarve, num balanço do Plano Estratégico dos
Transportes (PET), anunciado há um ano.
Logo no início
do ano, a 1 de Janeiro, o Governo encerrou
cerca de metade desses 622 quilómetros. Foi desactivada a linha do Corgo, a do
Tâmega e a do Ramal da Figueira da Foz (que já estavam sem funcionar e à
espera de obras). A isto somou-se o fim
do serviço de passageiros na linha do Leste e na ligação Beja-Funcheira, num
total de 301,6 km.
Em Agosto foi encerrado o Ramal de Cáceres, passando
o Lusitânia Expresso – o único comboio de passageiros que usava aquela linha –
a circular pela linha da Beira Alta. Por encerrar
estão as linhas do Vouga (95,8 km), do Oeste entre as Caldas da Rainha e a
Figueira da Foz (55,7 km) e do Tua (54,1 km).
Manuel Tão
refere que a ligação Beja- Funcheira era “parte importante da Linha do
Alentejo” e uma ligação importante ao Porto de Sines.
“O Governo não
tem qualquer estratégia concreta para os portos. O Porto de Sines é de uma
acessibilidade global e depende de uma só linha, basta uma avaria para que o
porto deixe de ter acessibilidade ferroviária. Beja é o elo fundamental para
que haja uma segunda alternativa. Não podemos ter o Porto de Sines dependente
de apenas uma linha ferroviária”, argumenta.
Para este
especialista, “insistir em fechar linhas
é deixar de ter um sistema em rede e passar a ter esquema esquelético”,
pelo que não se pode “pensar no comboio como alternativa, quer para passageiros,
quer para mercadorias”.
Manuel Tão
considera que Portugal caminha para ter
apenas “restos de caminho-de-ferro à volta das grandes cidades: Lisboa-Porto,
Lisboa-Algarve, Porto-Minho e Porto-Espanha”.
“Quando o
sistema em rede começa a definhar, a questão não é fechar a linha A ou B, mas
fechar o todo. Isso só aconteceu na América Latina e na África Subsariana, na
Europa nunca”, destaca, explicando que em qualquer outro país europeu esta
situação não existe: “Este cenário só aconteceu no Equador, na Colômbia e na
Serra Leoa. Hoje têm toda uma logística de mercadorias entregue à estrada”.
Por isso,
“perante políticas destas, Portugal
afunda-se ainda mais na dependência do petróleo”.
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