Labordeta
Uma pequena incursão num dos campos mais maravilhosos da arte, a música, nunca fez mal a ninguém. Sobretudo porque não vem a despropósito. A propósito de Labordeta, que actuou, como não podia deixar de ser, no recinto da Expo 2008 (concerto ao qual, infelizmente, não assistimos), falaremos da sua pessoa, cidadão exemplar e multifacetado.
José António Labordeta nasceu em 10 de Março de 1935 numa casa da Rua Buen Pastor, no casco antigo de Saragoça. No ano seguinte, com a Guerra Civil, o seu pai, Don Miguel, professor de Latim, é detido e expulso do ensino por causa da sua militância na Izquierda Republicana.
A partir de 1949, com o casamento do seu irmão Manolo, Labordeta passa a viver com o Miguel, importante poeta espanhol que marcará o seu percurso artístico e biográfico. (Miguel Labordeta tem uma rua na cidade, localizada aqui).
Com a morte de Don Miguel, em 1953, José António começa a escrever os primeiros poemas. Em 1958 funda e dirige a revista Orejudín e o seu primeiro livro, "Sucede el pensamiento" é editado no ano seguinte. De 1958 a 1960 dá aulas em Aix-de-Provence. Em 1960 licencia-se em Filosofia e Letras. Em 1965, então a viver em Teruel, publica mais dois livros, "Las Sonatas" e "Unamuno: diario poético en Papeles de Sor Armadans". Em 1968 grava um Epê, "Andros II", que foi apreendido pela censura.
A 1 de Agosto de 1969 morre o seu irmão Miguel, tragédia que o afectará profundamente na sua obra e vida. Em 1971 edita o seu livro fundamental, "Cantar y callar", edição que trazia o seu primeiro disco, apreendido. Em 1972, Labordeta e alguns amigos aragoneses, fundam a revista Andalán. Publica também "Treinta y cinco veces uno" (poesia) e escreve "Mitologías de mamá" (romance que só será publicado em 1992). No ano seguinte publica novo livro de poemas, "Tribulatorio".
Em 1974, ano do seu primeiro élepê, "Cantar i callar" (editado em França), publica "Cada qual que aprenda su juego" (reunião de pequenos romances), e recebe o Premio San Jorge, atribuído pela Diputación Provincial de Zaragoza. No ano seguinte, no seu segundo álbum, "Tiempo de espera", surge uma das suas canções mais conhecidas, "Canto a la libertad", canção que se tornará o hino não oficial de Aragão.
De 1976 a 1989 publica dez álbuns (dois deles ao vivo) e seis livros, além de artigos em revistas e jornais. Durante esse período milita no Partido Aragonesista (PSA) e, findo este, na Chunta Aragonesista (CHA) . Em 1991 abandona a vida de músico, recebe o prémio Juan de Lanuza e em 92 a Medalha de Ouro de Zaragoza. De 1991 a 1998 realiza o documentário sobre a Espanha rural "Un país en la mochila" (transmitido pela TVE2). Em 1999 é eleito deputado para a Assembleia de Aragão pela CHA.
Em 2000 é eleito deputado para o Congresso (equivalente à nossa Assembleia Nacional), pela CHA. Vai publicando discos e livros e em Junho de 2004 faz parte da comissão que investiga os acontecimentos do 11 de Março. No começo deste ano abandona a actividade política.
Além de poeta, escritor, cantor, deputado, "el abuelo" foi também actor (em dois filmes), comentador e apresentador (na rádio e televisão). Um homem ligado assim à sua terra e às suas gentes foi, podemos dizê-lo, um excelente comunicador das paisagens e da geografia humana das vastas, ricas e diversas regiões espanholas. A sua voz grave e forte canta o carácter agreste da paisagem aragonesa. Na AntenaGeo (ao fundo, no Georden) podem ouvir algumas das suas canções mais representativas e marcantes.
Num âmbito mais geral, o documentário que dirigiu e apresentou durante 8 anos, "Un país en la mochila", proporcionou a quem pôde vê-lo um maior conhecimento do país vizinho.
Documentário de grande interesse geográfico e cultural do qual vos propomos a vizualização de um vídeo, disponível no YouTube, com extrato de um episódio sobre a região e o rio Duratón (afluente do Duero). Vale bem a pena. Há outros (basta procurar por "Labordeta" e "mochila").
Para picar o ponto ao habitual queixume português, pena a RTP já não ter programas que lhe cheguem aos calcanhares...
Pequena biografia extraída do livreto da compilação "Cantar y No Callar", caixa com 13 cds que reúne os seus álbuns de 1975 a 1995 (editada em 2004, pela Fonomusic)
Imagens retiradas de 10lineas.com
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