Sabor Livre - 3: Divagações

As experiências têm dado maus resultados. Eis porque ainda ninguém se lembrou de propor a bacia do Sabor para parque nacional. O vale do Sabor, para lá da sua riqueza biológica e humana, que, caso os barragistas levem a melhor, ficará irreversivelmente descaracterizada, tem enormes potencialidades para o turismo, e em diversas vertentes.
As suas margens, com condições edafo-climáticas específicas e raras, são óptimas para a vinha ou a cultura do azeite. Mas a EDP não se dedica ao turismo, nem à agricultura. Por isso, esse enorme potencial não conta para nada. O que conta são as contas dos pequenos deuses caseiros que nos governam. E se são pequenos e nos governam, que faz isso de nós?
Retiram-nos toda a capacidade de discussão, democraticamente, e decidem. Em nome do Estado e do bem do desenvolvimento do país, dizem. (Onde é que eu já ouvi isto?)

Em alguns países, algumas pessoas já aprenderam que tem de haver espaços que devem permanecer livres de qualquer intervenção humana directa. Isto é, devem constituir uma reserva de biodiversidade. E QUEREM DESTRUIR UMA ÁREA INCLUÍDA NA REDE NATURA 2000? A biodiversidade é crucial para o desenvolvimento económico de uma região. É apenas mais um passo no caminho até agora percorrido: o do abandono.

Os planos contra as alterações climáticas, que, julgo, visam defender o ambiente, não podem agir contra uma algo que lhe é inerente. Seria completamente absurdo.

Água é vida. Certo. Mas o maniqueísmo turva o pensamento. Pois o seu excesso promove umas condições e destrói outras. Tanto se fala da subida do nível médio do mar e do território que vai engolindo - e quanto a barragens e ao défice de sedimentos no nosso litoral estamos conversados! Assistimos à invasão do mar, mas, com causas tão afastadas (como em Entre-os-Rios), ninguém se zanga e vai pedir contas! -, tanto se fala em contrabalançar e reduzir as emissões de CO2 com os “sumidouros”, tanto se fala em proteger o os espaços naturais e querem fazer precisamente o contrário do que dizem querer. Cada vez mais inundamos o território com lagos artificiais… “venham ver o maior lago artificial da Europa!”, “venham ver, temos a ponte maior da Europa!”, “estamos a construir o maior parque solar da Europa!”… É TÃO GRANDE A NOSSA PEQUENEZ!..

Temos de cumprir as metas de Quioto, não é? São opções políticas. Teremos que viver com o que ficar decidido. Mas para isto já não parecemos invocar o futuro. E até agora, no meio disto tudo, alguém já ouviu falar em ordenamento do território? Que país queremos? Enquanto não entregarem todas as galinhas de ovos de ouro aos privados, não descansam.
O que é renovável não pode ser explorado da mesma forma que o petróleo. O que é renovável deve ser de todos! Mas os poderosos nunca deram o poder a ninguém, se isso implica perder a sua posição no trono. O futuro tem de ser sustentável e eticamente responsável. E essa ideologia estorva-nos o caminhar. Não poderá ter lugar.

Em relação à central da Amareleja, promovem-na como se o tamanho fosse uma vantagem! Lá está, continuam a impor-nos o paradigma de pensamento que terá de ser ultrapassado. A busca da quantidade e da concentração é uma excrescência do capitalismo industrial, com o qual chegámos à situação calamitosa de que começamos a tentar salvar-nos. O paradigma civilizacional dá-nos cada vez mais sinais do erro em que estamos metidos.
A única via possível consiste em reproduzir e promover as condições ambientais e os ensinamentos da Natureza. Porque na distribuição da energia há perdas enormes. Algo que não sucederia se os painéis solares fotovoltaicos estivessem distribuídos e dispersos nas habitações, que são, ao fim e ao cabo, o destino dessa produção.
A solução não passa pela quantidade e concentração, como os senhores do mundo nos vendem. Passa pela qualidade, distribuição e diversidade.
NÃO DÊMOS MAIS TIROS NO PÉ!
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