Sabor Livre - 2: A Manipulação
1984, George Orwell
Então querem construir mais uma barragem e criar mais um grande reservatório de água? Os rios são públicos? Ou são propriedade da EDP? Porque não recorrem a micro-hídricas? Não haveria impactos ambientais significativos no frágil ecossistema. Mas, apesar de mais consentâneo com os princípios que dizemos defender, era mais dispendioso. E a EDP, e nós que lhes pagamos, quer ter um lucro sem ter de esperar tanto. Custe o que custar.
E com o dinheiro que pensam ganhar compram almas e homens. Viva o império! Também compram autarcas, que já estão comprados até, por terem propriedades nas zonas inundáveis. Até as compram a correr, se for preciso. E, todos juntos, fazem a cabeça às populações locais. Deixa de se falar em “populações afectadas” e passam a falar de “populações contempladas”…
Dizem que é bom para a região…. O QUÊ???
Em quase todos os exemplos de construção de barragens os postos de trabalho directos são uma miragem, pois fazem parte da empresa. E depois é tudo trabalho de máquinas e de pessoal especializado, difícil e propositadamente recrutado na região. A riqueza que as centrais hidroeléctricas criam escoa-se para outras regiões com uma facilidade assustadora…
É bom para a agricultura? Pois, mas… DE QUE TERRENOS ESTARÃO A FALAR? A área submersa será enorme e eu nunca vi terrenos agrícolas debaixo de água a serem úteis a quem quer que seja.
É bom para regular os caudais e evitar as cheias? ERRADO! As barragens não são capazes de reter grandes volumes de água, que é precisamente quando é necessário agir. E, nesses casos, as barragens potenciam, portanto, os efeitos destruidores dos caudais.
É bom para reduzir a emissão de CO2? A SÉRIO?... Conta-se em menos de 1% essa redução prevista. É com valores destes que fazem tanto alarido? Estudos mencionados pela Plataforma demonstram que um investimento semelhante na rede de transportes públicos resultaria numa redução 4 vezes superior. Mas não. Porque o objectivo é construir uma grande barragem.
A inconsistência dos governos que, desde o início do processo, em 1996, andam a saltar de justificação em justificação, não convence ninguém. São até capazes de encomendar estudos, científicos, dizem, a justificar as suas opções. Pois parece que surgiu um - alguém sabe quanto custa um minuto no intervalo do telejornal das 8? - no jornal Público, a falar de “estudo das alterações climáticas e seus impactos na bacia do Sabor”. Com o patrocínio, ao que nos foi dito, das Águas do Alto Douro. Deixem-nos respirar, que a manipulação é sufocante!
Meia dúzia de caciques locais, “pequenos deuses caseiros”, apoiados pelos governos que vão passando (os caciques, como faz parte da sua natureza, vão ficando…) e fortes pressões na Comissão Europeia apontam todos no mesmo sentido.
Meia dúzia de iluminados, engenheiros até, corruptos e prepotentes decidem, com toda a ligeireza e pequenez sobre um assunto de tamanha gravidade.
Em Portugal temos por hábito pôr bois a conduzir-nos a carroça…
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