Dia Mundial das Zonas Húmidas

Clique para aumentarTem lugar hoje, dia 2 de Fevereiro, o Dia Mundial das Zonas Húmidas.
Para a sensibilização das populações e assinalar a data estão a ter lugar alguns eventos em diversas localidades do país. Visitas, passeios, observações e outras actividades didácticas decorrem entre 27 de Janeiro e 4 de Fevereiro. Fique a saber o programa completo aqui. Participe!

Estas zonas, classificadas e definidas pela Convenção Ramsar (Convenção para as Zonas Húmidas de Importância Internacional, que teve lugar na cidade iraniana com esse nome, em 1971), são áreas de extrema importância ecológica. Devido ao modelo de desenvolvimento seguido, estas são das áreas mais ameaçadas em todo o mundo, tendo as mais pequenas perto de um hectare (por exemplo Hosnie's Spring, em Christmas Island (Austrália).


Portugal conta com 12 lugares já classificados, distribuídos sobretudo nas zonas litorais e de transição (estuários, pauis, rias, lagoas e sapais). Em 2005, o ICN propôs 5 novos sítios, alargando estas áreas protegidas para 17. De salientar que os mais interiores se localizam no planalto da Serra da Estrela e troço superior do rio Zêzere e em duas lagoas (Caldeira e Fajã dos Cubres) da ilha de S. Jorge (Açores). O que corrobora duas coisas: só existe (só tem sido possível existir) biodiversidade nestas zonas sem uma ocupação pronunciada do Homem; localizando-se a maioria no litoral, com uma forte pressão demográfica e urbana, maior é o perigo que sobre elas paira.

A ameaça - mais grave que a da extinção de seres vivos, (pois trata-se dos próprios suportes físicos que os albergam) - sobre as zonas húmidas não pode estar dissociada de atropelos ambientais com que vamos quotidiana e tranquilamente vivendo:
- as desafectações das áreas classificadas como REN e RAN;
- a construção em zonas, já não só de elevada vulnerabilidade e função biológicas mas, de risco natural (arribas e dunas, por exemplo) que o turismo tem entusiasticamente alimentado e as autarquias, sedentas pelo “desenvolvimento” das suas regiões, cegamente dado o seu aval;
- as obras de engenharia (pontes, vias de comunicação, dragagens de areias), eventos culturais ou desportivos (“Festival das Dunas de São Jacinto”; o tão publicitado “Rali Lisboa-Dakar”, que passou por sistemas dunares protegidos);
- a presença, já tradicional, da indústria e respectivas emissões (leiam, por exemplo, esta notícia, referente ao estuário do Sado)
- problemas a montante (fluxos de água alterados, poluição industrial e doméstica que “corre para o mar”, impermeabilizações, etc.).


Estudo de caso:

A zona húmida da lagoa do Garrão (ou Dunas Douradas) encontra-se próxima do limite Este do Parque Natural da Ria Formosa (Algarve).
De facto, esta área foi “esquecida” aquando do Decreto n.° 45/78, de 2 de Maio, ao abrigo do Decreto-Lei n.° 613/76, de 27 de Julho, que classificou o sistema lagunar do Sotavento algarvio, que se estende da praia do Ancão até perto de Manta Rota, como reserva natural.
Após anos, esta área estava quase intacta, apenas um ou outro restaurante “plantado” no topo de uma duna, ou escondido no pinhal. A urbanização litoral começava a sentir-se em áreas arredores, como Vale do Lobo e Quinta do Lago. Com o passar dos anos, esta área começa a perder o encanto, o sossego de quem acordava apenas pelo cantar dos pássaros e que agora não dorme só de ouvir o arrancar dos motores dos carros dos veraneantes, das máquinas da construção.

Já nasceu o aborto imobiliário, chamado "Dunas Douradas Beach Club". Será mais um empreendimento turístico próximo da desordenada e caótica costa algarvia. Compreende uma área de construção de cerca 32ha. Em construção encontram-se 142 apartamentos. Ou, pelo menos, encontravam-se. Ao ritmo que a obra avança, já devem estar todos prontos a habitar.

Projecto de Ocean Club Vale do Lobo II in www.valedolobo.comE como um aborto imobiliário nunca vem só, encontra-se já na sua fase embrião, o “Ocean Club Vale do Lobo II” (que pertence ao senhor Sander van Gelder). Cito as palavras que se encontram no site oficial do resort de Vale do Lobo: “é, sem dúvida, um dos mais belos e exclusivos locais no Algarve para a compra de uma propriedade, assegurando um excelente investimento e retorno do mesmo. Trata-se dos lotes mais caros, uma espécie de filet mignon de Vale do Lobo. São 117 lotes de tamanhos entre 600m2 e 4.500m2 e que, graças à excelente localização, têm registado uma constante valorização ao longo dos anos.”

Com isto, só temos a dizer: vamos todos construir casas em Zonas Húmidas! Estamos certos de que vão valorizar-se (pelo menos a curto prazo). A ironia que o futuro nos reserva: daqui a poucos anos, estamos todos a contribuir para proteger a costa e respectivos caprichos de milionários que querem dormir ao som do bater das ondas!

É a realidade do nosso Algarve: o solo torna-se urbanizável facilmente. Até nas zonas mais sensíveis do nosso território os nossos dirigentes autorizam a construção desenfreada de empreendimentos turísticos, que nada oferecem de novo às populações. Falam em qualidade, variedade, quando não é verdade. Todos têm como alvo promover o turismo balnear de carácter sazonal, e nada mais. E disto, estamos fartos! Não queremos mais!

Vejam com os próprios olhos:

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Fonte: Georden, 2006.




Saudações geográficas

Eduardo Ferreira
Rogério Madeira

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