Parece que o Presidente da República esteve recentemente na maior democracia (?) do mundo, a Índia, e aproveitou para numa espécie de BLOG em directo (com a primeira dama por perto), revelar-nos um pouco da sua intimidade comentando o dia-a-dia da visita. Entretanto, uns rapazes (alunos diz-se) da universidade de Goa (15º25´36.32´´N) insurgiram-se contra a atribuição por aquela Universidade, de um doutoramento Honoris causa ao nosso presidente, afirmando que deveria ser atribuído a um habitante de Goa e não a um representante de um país colonizador, no que deve ter sido o momento mais marcante da visita. Parece também que o nosso presidente não viu e não quis ver o retrato do ex-presidente do concelho, Dr.Salazar, mas viu outros, durante a visita. Até hoje não se fala de outra coisa na Índia (!)… Já por cá ninguém se lembra de nada, pois não?
Ali perto, mais para norte, uns dias depois, estava o nosso primeiro-ministro a chegar de peito feito ao espaço aéreo da China e o presidente Chinês(Hu Jintao), mais meia dúzia de representantes do estado, a fugir pelas traseiras em direcção ao seu novo nicho económico-cooperativo da esquizofrenia global: África. Deixando o seu (nosso) potencial interlocutor com os PALOP (e quase na presidência da EU) a fazer jogging com uns tipos que ninguém conhece e que não se quiseram comprometer. Parece que ainda telefonou ao Eduardo dos Santos em Angola, mas ele não se encontrava disponível. Consta que estava a tratar de negócios de petróleo com uns tipos asiáticos… De Beijing a Xangai e depois Macau, o nosso primeiro ainda falou da implementação, nem que seja à pancada, do “modelo Finlandês” e de um tal choque tecnológico, ao que os Chineses retorquiram não gostar de imitações, embora façam muitas nos têxteis, e preferirem o original, sendo que a NOKIA entre outras, já lá estava em força a “conectar people”, desde que o façam com respeitinho e sem levantar questões…
Ouvindo isto, o Sr. Pinho da Economia no seu nonagésimo terceiro minuto de fama, sem contar os excessos de velocidade e paragens policiais, logo tentou descansar os asiáticos vendendo-lhes do seu próprio veneno: baixos salários e um povo que nem imagina onde se meteu. Como já aqui referimos várias reacções, preferimos a abordagem fria e esclarecedora de um seu antigo companheiro de governo (Campos e Cunha, ex das Finanças): sofre (o Sr Pinho) de “dissonância cognitiva”, não sendo de todo compatível um discurso moderno para Europa ver, e salários baixos para chinês (e português) ver. Pelo menos em abstracto.
Campos e Cunha, o ministro que saiu misteriosamente do triângulo das bermudas do governo e politica portuguesas, disse mais, disse muito mais. Revelou em entrevista ao programa Diga Lá Excelência na DOIS de 4 de Fevereiro e publicada no Público do dia seguinte, que do grande plano de investimento apresentado em 2005, com grande pompa, parece que apenas consta actualmente, imaginem lá, a OTA e o TGV, essas duas gigantescas obras do regime que em poucos anos revolucionarão (os quatro do costume) o país para o pelotão da frente. Da OTA já aqui se falou, entre outros, da construção em leito de cheia ( dos custos e soluções técnicas inerentes), da pouca razoabilidade de escolha do sítio, a mais de 50km de Lisboa, das dificuldades de crescimento futuro, da necessidade de um ordenamento a nível nacional (qual o futuro papel do Aeroporto Sá-Carneiro que se pretende relevante no Noroeste da Península, e onde se tem investido milhões?). Acresce as dúvidas, legitimas, sobre a intencionalidade e o planeamento do país, quando continuam as obras de ligação do metro à portela, quando se anunciam milhões e milhões de Euros de investimento no actual aeroporto (ainda recentemente se falou de um acréscimo de 50 milhões), para fechar em 2017,ou continuarem os dois? Ninguém percebe. Ainda por cima, Campos e Cunha vem agora dizer que não percebe a opção OTA porque alguns militares lhe disseram que a pista é perigosa (ventos), e que não apresenta capacidade de expansão, logo não é viável… economicamente. Esclarecidos.
Na ribalta continua Luís Amado, de quem, como o próprio nome indica, toda a gente gosta. Na troika da EU, lá foi negociar à Rússia o fornecimento de gás natural. Os resultados não foram nenhuns, mas como disseram os próprios intervenientes, ninguém estava à espera de outra coisa, pelo menos para já…
Esta coisa de estarmos em todas e ninguém nos ligar nenhuma, sendo que cá dentro, o marketing de 2ª divisão é o bastante para toda a gente andar nas nuvens, cheia de orgulho (pensem na manifestação nacional de apreço aquando Durão Barroso FUGIU lá para a Europa, deixando o país com o menino guerreiro), mais a treta do choque, do cartão único, da Internet em cada toilet, lembrou-me um episódio dos Simpsons. A escola pública estava a fechar por falta de dinheiro, acabando por ser comprada por uma empresa privada. De início a coisa era o máximo para as crianças, muita actividade lúdica, liberdade e diálogo (as crianças tinham que dizer e fazer aquilo de que mais gostavam); nada de matemática, história ou literatura (estão a seguir?). Mais tarde sabe-se que tudo estava a ser devidamente observado e registado ao mais ínfimo pormenor, num plano sórdido(e terrifico?). Objectivo: criação de um novo robot(brinquedo?) para impingir às crianças, que preenche-se todos os requisitos mínimos e máximos, algo pelo qual valesse a pena até matar. É claro que todas as crianças adoraram (mas note-se, tratava-se de crianças!) e mesmo assim a coisa não durou. Existe uma linha muito ténue entre aquilo que realmente necessitamos e aquilo que pensamos necessitar.
No país provisório em que vivemos (imaginário nas palavras de Pulido Valente), parecer que se faz alguma coisinha é uma virtude. Fazer alguma coisa, um fait divers.
Tudo isto me recorda uma personagem de W.G.Sebald, Austerlitz, referindo-se à luz branca muito intensa dos restaurantes Mc Donald (mas que se encontra hoje em dia em muitos locais): iluminação ofuscante que não consentia sequer um indicio de sombra – eterniza, como ele disse, os segundos de terror de um relâmpago e o que dá não é dia nem é noite –
Existem luzes artificiais que não alumiam.
Comentários
Em relação ao TGV, acho que são mais uns milhões de euros pelo "cano a baixo" que outra coisa. Quando temos um pendular que ainda não funciona a 100% (devido à linha do norte) como se pode pensar em algo mais? O TGV só seria minimamente viável se as duas paragens mais próximas distassem em 200 kms. Para ser altamente rentável, tal como em algumas linhas francesas, as cidades têm que estar a uns 400 kms umas das outras.
Abraços,
Telmo Cunha