O teu mundo é o nosso mundo

"É Natal, é Natal...", pronto. A nossa cabeça feita preenche o resto...
Rua do Souto, Braga, 13-12-06

Não seria tão bom se nas ciências ditas não-exactas a probabilidade fosse extinta? Assim, como quem extingue um Ministério. Não seria bom?
Nestas guerras epistemológico-filosóficas entre racionalismos vs. emprismos e determinismos vs. possibilismos, escolhemos o nosso partido. E roemos o osso se alguém vem para no-lo tirar.

Esqueçamos, então e por momentos, ad hoc, a probabilidade e o seu Sancho Pança, o dom falsificacionismo. E pensemos nas relações afectivas e/ou emocionais que os espaços nos fazem experimentar. A vivência, o percurso pelos espaços, ou a simples “estadia” em lugares. Seguem-se alguns exemplos que se pretendem elucidativos:

Que sentimos quando vamos subindo, a pé, obviamente, a serra mais alta de Portugal e vamos olhando para baixo?
Que sentimos quando nos deparamos com uma parede branca? E se essa parede estiver repleta de papel de parede propagandístico de todas as crenças, cores e interesses?
Que sente o automobilista ao aproximar-se de uma curva apertada? Ou enquanto passa no piso vermelho da rodovia António Macedo, em Braga?
Que sente o viandante ao passar pelas vielas e ruas mais estreitas das cidades? E se o fizer de noite? E se então lhe surgir uma ameaça em forma de ponta e mola?

Sabemos que as ruas que repentinamente se alargam nos condicionam a estugar o passo.
E que ambiência associamos a uma loja de jogos de vídeo?
Que sons quase começamos a ouvir quando se nos é estendido um tapete vermelho à entrada de uma sala de concertos? As suas paredes alcochoadas e ornamentadas a dourado.
Uma praça vazia, centenas de pombos a comerem, pessoas imóveis (imobilizadas) nos bancos de jardim, o ruído não de fundo nessas “praças de restauração” e as televisões a vomitarem o costume, a Avenida da nossa Liberdade bracarense a encherem-se de operárias e estudantes nas horas de ponta…
… ai, e nós, num barquinho parado junto às paredes frias dos rochedos do Alto Douro…

Os espaços condicionam o que sentimos, apreendemos, fazemos. E reparo as cidades serem cada vez menos os espaços de reunião e convívio. Espaços onde algo acontece, espaços de participação, de prática cívica. Cada vez mais se nos apresentam como espaços de consumo. Vamos, portanto, transformar o espaço até ao mais ínfimo pormenor, e a racionalidade terá certamente os seus ataques epilépticos imprevisíveis cortados à nascença. Abortados.

Ah!... a razão é inimiga do determinismo…

Felizmente que os espaços urbanos estão cá para nos livrar dessa faculdade anacrónica!


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