País de Parolos (tomo segundo)

O que alegam, defendem, vendem, acenam aos munícipes é que a circulação automóvel vai ser mais fluida.

Sim, mas para isso não era preciso fazer obras. Porque "obrar" até sugere, precisamente, o contrário.
Por conseguinte, também não era preciso fazer barulho.
Nem cortar o trânsito.
Nem encher de areia e água, portanto, suja as ruas intervencionadas.

Bastava cortar com os estacionamentos onde a circulação é estrangulada.
Acabar de vez com, nem dizemos carros em segunda fila: DIZEMOS PRIMEIRA! Que em certos casos bastam para fazer do burgo uma brincadeira de peões e passageiros. Parados.
Onde os autocarros, equiparados aos automóveis (até nem levam mais pessoas, nem nada...), são obrigados a esperar para prosseguir o seu periclitante percurso e a fazer-nos concluir:

"Puxa, da próxima vou a pé, que é mais rápido!"

Não vale a pena andar a motor e quatro rodinhas numa cidade tão pequena.
Só que / Mas que, de tão pequena, não devia ter os problemas e as demoras de tráfego que tem.

SAI, PAROLO, PARA A RUA E VEM VER A PORCARIA DE TRÂNSITO QUE NÃO APANHAS E PERSISTES EM PROJECTAR!

As cidades são problemáticas para o trânsito pois o buraco em que as vamos tornando não cresce para o que lá queremos meter dentro.
Desculpai-me a, porventura, metaforização feminina barra insinuação sexual acima e abaixo, porque, se quisermos ver no que o capitalismo torna os espaços urbanos (prossegu(i)ndo a reflexão do tomo anterior deste artigo), não são as cidades lugar onde nos compramos e nos vendemos?

Que é das cidades sem os tráficos (o do dinheiro, o das pessoas e das mercadorias)?
Talvez pudesse ser um espaço mais humano, já sabemos e imaginamos, com espaços de fruição, lazer e criatividade, de uma criatividade e de uma fruição que não estivesse sempre a ir cair na porcaria da economia e do consumo... Os lugares onde confraternizamos... porque têm de ser sempre acompanhados ou de cerveja, vinho (ou piores nem bebidas...) ou de algo pra trincar ou degustar?

"Ah, e tal, consumir é um acto social"

Mas, neste caso, antes de mais é um acto económico e uma cidade tem ou devia ter uma noção bem mais alargada do que aglomerar uns pobres seres condenados à indigência do betão e da desapropriação.

PÁRA, PAROLO, DE SER APENAS PORCO E PASSA A SER OUTROS ANIMAIS MAIS!

Cria! Protesta! Canta! Pinta! Toca!
Não consumas e destruas, somente.
MEXE-TE! MOBILIZA-TE! MORDE-TE!

Eu não uso, mas tenho de pensar como se quisesse usar. Como se tivesse de usar.
Assim, ao materializar a minha vida, eu veria com mais olhos e de uma forma menos estanque as respostas, diversas, que são procuradas...

Eu não uso, mas tenho de pensar como se quisesse usar. Como se tivesse de usar.
Porque eu posso, e tenho de ter o direito e a possibilidade de usar os transportes públicos.
Bem como outras coisas públicas. 
Senão não o são.

(Um rio, sob o sol a pôr-se, Paredes, Tejo ou Mondego a estas horas da madrugada... eterno és, quase a cambalear, de olhar sorridente por entre a multidão trabalhadora...)

Ponto.

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