Braga, cidade a querer parar a vida
Entretanto, lá veio o considerado dia mais quente do ano (de uns abafados 37 graus, talvez) e um mini-exército de jardineiros a cumprir ordens superiores dos generais habituais retirou as flores que lá estavam nos canteiros do cimo da avenida da Liberty e lavrou a terrinha.
E nem vestígio de plantas ficaram na terra, de manhã preta e à tarde seca.
No dia seguinte, hoje mesmo, lá voltaram os ditosos senhores, exército de trabalhadores, cavadores e embelezadores a pôr... flores.
Ciclicamente se dá este estranho fenómeno de retirar o que uns meses se pôs.
Porque as pessoas precisam de comer e este arranjinho-empreitada mais foi, uma vez mais, muito bem feito.
Diziam embelezar a avenida e dar panorama até ao fundo (já falámos oportunamente disto aqui há uns tempos) mas o tunelzinho que dá passagem aos motores não será corrigido por plantas de maior porte que uns amores perfeitos sempre a morrer.
Queremos mais exemplos de não-sustentabilidade?
Se nos pormenores as coisas não funcionam duravelmente, que faria nas grandes se as implementassem com as adequadas propagandas e areias pròs olhos dos ceguinhos do costume...
Vamos fazendo estas obras de meia-tigela, cegas e cegadoras, que segam quaisquer hipóteses de contrariar a tendência para a desertificação.
Sim, sabemos que nas cidades se costuma dizer "Despovoamento", mas neste caso é mesmo de "Desertificação" que queremos falar. Pois, se ele fosse levantado, o betão ou alcatrão ou pedra, por baixo só há areia, não solo.
O solo tem estrutura. O solo é composto por matéria orgânica e ar.
Com a compactação e o sufoco, deixa de haver solo.
Por isso, areia, sem estrutura, mais facilmente se formam buracos inesperados. Normalmente, junto de condutas de água.
Contrariar a tendência do deserto em que se vai transformando o país não é connosco.
Porque nós vivemos na cidade, afastados, e nem damos conta.
Porque a água continua a jorrar na torneira, portanto, "o que é que estás pra aí a dizer com isso da seca?"
...
E as obras em curso, que vão ganhando forma e feitiozinho, absorvem o erário público e reflectem o sol e o calor e aquecem-nos a valer.
A valer.
E nem uma nesga de sombra, nem uma aragem de humidade.
Porque esta cidade está há anos a saque dos betonizadores burgo-mestres.
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