A Geografia da Porta ao Lado
Tudo dentro da lei.
Mas fora do eticamente aceitável.
Do democraticamente desejável.
Da Democracia que (quereremos? Alguns não querem. Quantos serão?) temos de construir.
Portanto, a lei falha.
A lei foi feita por quem?
Quem pensámos que nos representava?
Por quantas mais eleições erraremos?
Uma história do Portugal provisório, que narramos da seguinte forma:
Certa pessoa tinha uma consulta no médico de família.
Dirigiu-se ao posto médico:
- Boa tarde, tenho uma consulta para a Dra. ...
- Você não sabe? A Dra. ... reformou-se há dois meses. Ninguém a avisou?
- Como??? Reformou-se?
- Sim, a Dra. ... e o Dr... [casados]
- E porque é que não me avisaram? Tenho contacto, telefone, telemóvel, estou sempre disponível, conhecem-me há anos, têm a minha morada...
---
O diálogo terá sido mais ou menos assim, segundo o que me foi contado.
Médico de família há mais de duas décadas.
Aldeia a poucos quilómetros de uma cidade que é também sede de distrito.
Região de Saúde da zona norte.
Saúde pública, vilipendiada, ostracizada por quem a faz.
Ah, sim, claro que têm todo o direito à reforma: trabalharam os anos previstos na lei, merecem o descanso.
A lei apenas tem que fazer o seguinte:
abrir concurso, prover as faltas (e no caso da Saúde, com carácter de urgência), e, deixando-se de burocracias (mas com a ajuda delas), respeitando as pessoas e os utentes (que têm direito a cuidados de saúde - está em qualquer Constituição democrática!!) e avisando que tal e tal.
Muito bem.
Passo seguinte.
O passo seguinte é sair pela porta. Sempre aberta. No horário de expediente, claro.
(Para outros casos é favor dirigir-se ao Centro de Saúde mais próximo, quando não ao Hospital. Mas se tal se justificar. Vamos lá ter calminha, sim?)
Na porta ao lado, há uma clínica privada.
Essa pessoa, essa utente, que tinha uma consulta, vá lá saber-se porquê, talvez seja uma questão mesquinha (raio de pessoa!) não quis lá ir. Ah, e pagar uns míseros 40 euros por consulta. Ou o raio que o valha.
Porque a porta ao lado é um mundo completamente diferente.
(Onde é que ja vimos este filme? Alice no País das Maravilhas? Humm... Quem é que está a ficar pequeno com estes comprimidos?)
Na clínica privada, a Dra. ... , a mesma Dra. ... dá consultas.
Pois claro.
A título privado, as pessoas têm todo o direito de continuar a trabalhar.
(Dizem até que adia a morte...)
Terão?
Ao fim de tantos anos de serviço, cai por terra toda a imagem de amor ao serviço público que, porventura, possamos ter construído sobre estas pessoas. Sobre estes Drs.
Mas fora do eticamente aceitável.
Do democraticamente desejável.
Da Democracia que (quereremos? Alguns não querem. Quantos serão?) temos de construir.
Portanto, a lei falha.
A lei foi feita por quem?
Quem pensámos que nos representava?
Por quantas mais eleições erraremos?
Uma história do Portugal provisório, que narramos da seguinte forma:
Certa pessoa tinha uma consulta no médico de família.
Dirigiu-se ao posto médico:
- Boa tarde, tenho uma consulta para a Dra. ...
- Você não sabe? A Dra. ... reformou-se há dois meses. Ninguém a avisou?
- Como??? Reformou-se?
- Sim, a Dra. ... e o Dr... [casados]
- E porque é que não me avisaram? Tenho contacto, telefone, telemóvel, estou sempre disponível, conhecem-me há anos, têm a minha morada...
---
O diálogo terá sido mais ou menos assim, segundo o que me foi contado.
Médico de família há mais de duas décadas.
Aldeia a poucos quilómetros de uma cidade que é também sede de distrito.
Região de Saúde da zona norte.
Saúde pública, vilipendiada, ostracizada por quem a faz.
Ah, sim, claro que têm todo o direito à reforma: trabalharam os anos previstos na lei, merecem o descanso.
A lei apenas tem que fazer o seguinte:
abrir concurso, prover as faltas (e no caso da Saúde, com carácter de urgência), e, deixando-se de burocracias (mas com a ajuda delas), respeitando as pessoas e os utentes (que têm direito a cuidados de saúde - está em qualquer Constituição democrática!!) e avisando que tal e tal.
Muito bem.
Passo seguinte.
O passo seguinte é sair pela porta. Sempre aberta. No horário de expediente, claro.
(Para outros casos é favor dirigir-se ao Centro de Saúde mais próximo, quando não ao Hospital. Mas se tal se justificar. Vamos lá ter calminha, sim?)
Na porta ao lado, há uma clínica privada.
Essa pessoa, essa utente, que tinha uma consulta, vá lá saber-se porquê, talvez seja uma questão mesquinha (raio de pessoa!) não quis lá ir. Ah, e pagar uns míseros 40 euros por consulta. Ou o raio que o valha.
Porque a porta ao lado é um mundo completamente diferente.
(Onde é que ja vimos este filme? Alice no País das Maravilhas? Humm... Quem é que está a ficar pequeno com estes comprimidos?)
Na clínica privada, a Dra. ... , a mesma Dra. ... dá consultas.
Pois claro.
A título privado, as pessoas têm todo o direito de continuar a trabalhar.
(Dizem até que adia a morte...)
Terão?
Ao fim de tantos anos de serviço, cai por terra toda a imagem de amor ao serviço público que, porventura, possamos ter construído sobre estas pessoas. Sobre estes Drs.
Quanto descaramento!
Estas pessoas não têm a mínima vergonha?
Estas pessoas (médicos ou o que sejam), o mínimo que mereciam, era que lhes fosse retirada a reforma.
Mas não podemos ir pedir a leis destas que sejam nem justas, nem justas a esse ponto.
Ponto.
Estas pessoas não têm a mínima vergonha?
Estas pessoas (médicos ou o que sejam), o mínimo que mereciam, era que lhes fosse retirada a reforma.
Mas não podemos ir pedir a leis destas que sejam nem justas, nem justas a esse ponto.
Ponto.
Isto não vai ficar assim...
Comentários
Que o ano de 2010 vos traga mais histórias para continuarem a publicar sustentavelmente!
Abraços e beijinhos