"Mas o melhor são as crianças..."

Foto de Diniz Silva, Castanheiro do Ouro, Tarouca, 26.12.2008


Porque cabe a mim a publicação da foto do mês, pareceu-me apropriado, para a época, enviar uma saudação especial ao amigo Diniz Silva. A foto é dele, e, como todas as pessoas que fotografam a liberdade das crianças, captou a sua alegria pela dádiva que a Natureza decidiu oferecer-lhes.

Este é um mundo de contrastes e, talvez mais nesta altura que em qualquer outra, de extremos. Um mundo que sempre foi e não sabemos - quanto à componente humana, claro está - se sempre irá ser de coexistências. Coexistências desses contrastes, desses contrários. Porque o mundo é grande e porque - parece que o esquecemos - é o único.

Um mundo que nos torra nas areias laranja e nos congela nas alturas brancas.
Um mundo em que há monções que afogam quem sempre por elas aprendeu a esperar e secas inesperadas, que desidratam lentamente a vida que teima em resistir.
Lugar onde cada vez mais milhares morrem com problemas cárdio-vasculares, por consumo excessivo de hidratos de carbono, e onde há uma pesssoa a morrer a cada segundo que passa. Devido à fome, se é preciso lembrá-lo...

O mesmo mundo de um povo que sofreu das piores barbáries da triste história da desumanidade e que se julga com autoridade moral para decidir dar semelhante destino aos vizinhos.
Um mundo que prega à paz no sapatinho pendurado na lareira que é, nada mais nada menos, o mundo que bombardeia e destrói telhados e tudo o que por baixo deles se encontrar.
O mesmo mundo onde a grande democracia e garante de paz é a mesma que mais armas produz, usa, exporta, faz usar, financia - para a paz, pois então?!

Mundo onde coexistem os que pagam impostos a um Estado que vai sendo destruído pelos que não pagam, que disso se riem e que parecem ficar cada vez mais beneficiados com isso.
Mundo capaz de assinar protocolos de luta contra as alterações climáticas e -quão capaz! - que em apenas 6 anos (2000-2006) triplica as emissões de dióxido de carbono.

Um lugar que apela a um sono tranquilo ao mesmo tempo que as cidades vão ficando desertas e carcomidas nos seus miolos.
Onde coexistem as maiores fortunas do mundo com pessoas apelidadas de "terceiro mundo", com "menos de 2 dólares por dia", "subnutridos", "subalternos", "classes inferiores", ou eufemisticamente "pessoas humildes".

Onde coexiste a urgência de mudar com o emperramento das máquinas económico-políticas.
O burburinho anunciador do vulcão com a vida tranquila dos habitantes nos seus sopés.
Polders para albergar população com gelos que derretem.
A ganância das mãos invisíveis e amorais com vislumbramentos de futuros prósperos.
...


O mesmo mundo de bigodes pequenos e saudações nazis não foi capaz... de destruir o sorriso das crianças, pois que é força viva que se renova como os ciclos naturais e o mundo que gira.

Deixemos as crianças serem. Estão no seu tempo.
A neve é invulgar e dá alegria.

Quanto a nós, que já somos crescidos, aprendamos a compreender, de vez, o significado destes sorrisos. E de fenómenos meteorológicos anormais.
Que as tempestades se agigantam. Agigantamo-las nós, se ainda não o percebemos...

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