Imagens na cidade: simbologias

Vidal: Algures em Braga, Dezembro 08.

Não tenhas medo Sara. A coisa até seria para temer se não tivesse saído do peito de um gaiato imberbe e, importantíssimo, não tivesse no final aquele símbolo, ou desenho se quisermos, acrescido de um narizinho para todos percebermos que é um sorriso. Era como quando jogávamos ao pião e colocávamos uma taxa pregada no cimo para funcionar como seguro contra terceiros e livre transito para quebrar janelas e cabeças. Todavia, confesso que este remake que nos transporta para um novo (an)alfabeto terá as sua consequências, e o mundo da tecnologia esbarra na desculpa do facilitismo funcional que redundará em silêncios e afeições à distancia. Veremos. Entretanto é preciso compreender que um alfabeto será sempre muito mais que isso. Sigamos as palavras do grande repórter e viajante polaco Kapuscinsky quando ainda novato chegou primeiro à Índia e depois à China, em plena guerra-fria:

Que saudades tinha de encontrar alguma letra conhecida ou uma palavra, para me ancorar nelas, respirar um momento, sentir-me em casa, mas tudo era vão! Tudo era ilegível, incompreensível e misterioso (…). Mas de onde veio essa torre de Babel linguística-alfabética? E como nasce um alfabeto? Seguramente, no início alguém teve de começar por um signo. Colocou um signo para se lembrar de alguma coisa, para transmitir algo a outrem ou para enfeitiçar algum objecto ou território(…) e a lógica infernal de um alfabeto faz com que, com o tempo, este se complique cada vez mais, ficando cada vez mais ilegível para os não iniciados(…). (in Andanças com Heródoto).

Não precisamos de mais um alfabeto, ou neste caso de mais um conjunto de símbolos sem grande criatividade. Para isso temos o Esperanto. Por outro lado, como dizia Pessoa para esquecer a gramática é preciso sabê-la. Para se brincar com a linguagem é preciso sabê-la. Um mal entendido pode ser fatal. 

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