Já nem pestanejamos...
Foto 1 - Telhado do Braga Parque - Feira Nova
Como cada um saberá, temos vindo a assistir, tão normalmente que até chateia, ao aparecimento de novas superfícies onde as pessoas, sobretudo aos domingos, costumam enfiar-se para... "manejar os cotovelos e o olhar".
O mundo é globalizado por causa da economia e "o que está a dar" é o comércio, talvez o mais visível sinal dos investimentos municipais e administrativos. A lógica "desenvolvimentista" baseada no vazio.
(Outro sector-fole é o turismo. Não, não negamos a existência, a relevância e o seu papel, fundamentais para o tecido económico e, já agora, para funcionarmos enquanto sociedade. Trata-se tão somente de ocultar, com grande movimento de capitais e agitação frenética, os desequilíbrios e a grande dependência económica do sector produtivo do país... mas essa é outra matéria.)
O consumo de espaço por que era responsável a indústria nas periferias das cidades, em tempos não muito distantes, pertence hoje, podemos dizê-lo, à construção de habitações, vias de comunicação e áreas de comércio.
É até por isso que costumamos deparar-nos com aquela típica megalomania provinciana do
"A maior superfície comercial" daqui e dali. Aliás, parece que todas essas obras precisam, sine qua non para avançarem, de um slogan desse género. Se repararem bem na foto 2 (área ainda em construção, à saida da N101 - Braga-Guimarães), podemos ler algo como "O maior centro de comércio de Braga", frase sintomática do estado a que o concelho e, até, o distrito chegou: é que com tantas superfícies, os solgans parecem estar esgotados, restando a esta nova área o "miserável" título de "centro de comércio". (Não sei em que difere esta expressão da de "centro comercial", mas aqui fica a minha dúvida.)
Mas não se fica por isto. Ao longo do eixo Braga-Barcelos, já se prepara aquele que dizem vir a ser, imagino, "o maior Eleclerc do país", ou coisa que o valha. E depois há uma loja de móveis que, aquando da sua inauguração, escolhida para um domingo (lá está, nada é escolhido ao calhas...), apanhou este escriba desprevenido (de tão informado que andava destas coisas...). De qualquer forma deu para retratar um típico eixo rodoviário em terra de ruminídeos de lã virgem (fotos 3 e 4).
Mas, estarão estas novas áreas a criar espaços úteis para o desenvolvimento? Integrados e planeados? Que vai acontecer quando a oferta for (e parece que há muito já o é) maior que a procura? Que utilidade terão esses edifícios? Que novas potencialidades trazem para as regiões?
Há mais perguntas a fazer. Aproveitamos, por isso e aqui, para renovar o apelo à participação de quem nos visita e lê. Problematizemos, pois!
Comentários
A verdade é que as grande superfícies comerciais apesar de originarem postos de trabalho, podem ser catalisadores para o desaparecimento do comercio e industria locais, visto que têm a capacidade de oferecer produtos a preços difíceis de igualar.
Para além dos preços, os grandes centros comerciais oferecem aquilo que a maioria das pessoas procuram, ou seja, oferecem conforto enquanto consomem. No centro comercial temos lugar fácil para estacionar, saímos do carro sem nos molharmos, compramos, vamos ao cinema, bebemos um café, jantamos.
O aparecimento das catedrais do consumo é um problema de fundo da sociedade altamente competitiva que temos actualmente. As pessoas deixaram de ter paciência, nem tempo, para andar nas ruas da cidade, sujeitos aos desconfortáveis agentes atmosféricos e à falta de lugar para estacionar para para nem sempre encontrarem aquilo que procuram.
Acho que deixou de haver disponibilidade mental e financeira para fazer das compras um acto de lazer em que se pode passear pelas ruas cidade.
Como o espaço público tem vindo a ser tragado pelo privado, este tem tentado atrair mais frequentadores (potenciais clientes, que isso é que é preciso...) diversificando a oferta. Seja através de eventos culturais, como exposições, concursos de bandas de garagem, seja... seja o que mais?
Bem...
O espaço fechado é, à partida, um espaço controlado.
E a História popular tem-se feito nas ruas e nas praças.
Maniqueísta, não?