FOTO DO MÊS: As torres de Babel
Fernando Pessoa
Vidal - Março 2007
Na década de 1970, do século passado, Leonardo Benevolo na sua obra “As origens da urbanística moderna” (Editorial Presença, 1981), afirmava em jeito de advertência que Ainda hoje a técnica urbanística se encontra normalmente atrasada relativamente aos acontecimentos que deveria controlar e conserva o carácter de um remédio aplicado à posteriori.
Mais tarde, notando os novos espaços suburbanos das cidades, Baudrillard observava que normalmente (desde os anos 1960) os hipermercados PRECEDEM as urbanizações. Criam a necessidade, sendo a oportunidade. Tudo isto será verdade no caso português pós-25 de Abril. Mas não chega. Recorramos a Nuno Portas quando este atesta que os problemas estão em começarmos pelas casas e só depois pensarmos na rua, se for possível, claro. Isto verificou-se no país de uma ponta a outra, nas casas e construções clandestinas, nos bairros sociais e nas novas (sub)urbanizações. Irei mais longe ao afirmar que começamos pelas casas e logo pelo…telhado.
Três notas apenas:
Já aqui o referi. Esta área não resulta de qualquer plano sustentado, ou não, de urbanização, basta atentarmos nas sucessivas mudanças e atentados ao PDM. Nada de definição de células habitacionais, hierarquia de vias de comunicação, espaço público, espaços verdes, praças, centralidades ou mesmo de passeios ou bermas. Os prédios foram simplesmente aparecendo sem ordem aparente, sem relação de espaços e muitas vezes oprimindo os prédios vizinhos, privando-os de luz solar e privacidade. Existem casos de pessoas enganadas relativamente à construção de áreas verdes em redor das suas habitações ou a não existência de prédios na proximidade da sua habitação.
No entanto continua-se a construir. Lei da oferta e procura? Não é verdade, caros economistas. Neste particular não é a procura que suscita a oferta, mas a oferta que condiciona (ou tenta condicionar) a procura. Constrói-se.
Sei-o porque, por lá vivi (na área) e trabalhei, os imóveis, nomeadamente as torres de 15 andares da imagem, nunca tiveram uma taxa de ocupação significativa, sendo que a população residente é extremamente flutuante (nas torres). Desta ocupação saliente-se o aluguer informal e a ausência de recibos. Acresce referir a “IMAGEM” negativa da área construída à “luz” de estaleiros permanentes, segregação social e humana, degradação dos espaços e dos imóveis, entre outros. Refira-se, aliás, que alguns dos prédios de construção recente apresentam problemas de canalização, ruído, humidade e infiltrações de água, sendo constantes as inundações nas garagens mesmo ocorrendo pouca precipitação (construções em leito de cheia de ribeiros ou através da mudança de curso destes), etc.
Não existe o SENTIDO DE LUGAR.
Como se diz na minha terra: o último a sair que apague a luz e feche a porta.
Comentários
casas "emigrantes" que proliferam e "desgastam" a paisagem, sem sentido nenhum.uma vergonha.
Desconheço a cidade antes disso...
mas acredito que teria muito mais qualidade de vida. Seria muito mais cidade do que é agora. Agora vejo Braga como uma encruzilhada de estradas, vias rápidas, acesso, tuneis, pontes, etc...
Prédios e mais prédios...
E se pensar na descaracterização das praças... então é de chorar...
Lembro-me que quando fui a primeira vez a Braga encontrei um McDonalds numa praça central, e uma Pizza Hut noutra praça que desconheço o nome... Fiquei chocado! Se fosse o "Casa de Pasto do Tio Zé" ainda se aceitava agora "algo importado e plantar" em pleno coração da cidade? Não...
Enfim...
"O último a sair que apague a luz e feche a porta" que eu continuo a dormir descansado...
Apesar de tudo, parece-me que Braga padece de uma certa “alegria” saloia do novo, do “moderno”, confundindo crescimento com desenvolvimento. Alguns dos habitantes das áreas novas já sentem os efeitos na pele, até mesmo relativamente aos seus imóveis que ainda não pagaram e já estão deteriorados, e os seus filhos que nem podem sair para a rua, por segurança e falta de ESPAÇOS.
Perdemos todos, como se verá…