Os tempos mudaram, dizem, mas a estrutura é a mesma

Dizem que os tempos mudaram.
Mas vamos ser lúcidos: a falência de um dos regimes ou sistemas económicos que dominaram o Século XX não é bem o mesmo que a falência das ideias que esse regime queria pôr em prática.

Aliás, se formos a ver bem, aquilo que criticamos, que é o capitalismo, entendido como a propriedade por (algumas) cabeças, continuou - não sei se haverá fuga, mas não somos fatalistas como os que o professam (Srs. Fukuyama e "Amayukuf", um pelo lado de que o Capitalismo é último estágio, o outro de que a sociedade sem classes atingiu a perfeição) - a prevalecer.

Vejamos bem: quem detém os meios usa-os em seu benefício. Ou, em casos mais altruístas, em benefício de terceiros, mas garantindo sempre a sustentabilidade dos mesmos e o princípio de que se mantenham nas mãos que isso assegurem.

Em tempos de boleias partilhadas (por crises energéticas, vulgo (quanto tempo demoraremos a mudar a associação?) crises do petróleo e de outros combustíveis fósseis ou finitos à escala humana, quem é aquele que irá sempre dar boleia ao colega sem não pedir o mesmo serviço ao fim de algum tempo?
Essa, a cobrança.

Os transportes públicos não são gratuitos. Mesmo que paguemos uma taxa, para uns quase insuportável, para outros insustentável ou irrisória (porque o real preço a pagar não é medido nos reais impactos que o seu uso tem), eles são usados como serviço que tenta manter-se. E além de se manter, de pagar aos que o fazem funcionar.
O princípio económico, sempre na base de tudo, a limitar-nos.

Queres, pagas!

E a maior fonte criadora de desigualdade reside nisto: é que a utilização dos meios por parte de quem não os detém, ao mesmo tempo que lhes faz ficar mais pobres - porque têm de continuar a pagar esse uso -, cerceia a possibilidade de os ter.
Nas leis da raridade e do trabalho necessário para se conseguir um meio produtivo (mesmo que só produza dinheiro, como no caso que já vamos referir), há muita gente a fazer subir os seus preços.

Só quem investe, dizem, poderá dispor de capital para adquirir, por exemplo, uma fábrica que produz um dado bem.

Um exemplo gritante de acumulação de capital (que se baseia na diferença entre os gastos e dos ganhos, e neste caso é maior) é a propriedade do espaço.
Nas nossas cidades, onde ele é escasso, os proprietários de um prédio pagam à Administração o espaço ocupado. As rendas e IMI's.

Há uma empresa, com um nome familiar, que apesar do esmagamento do cimento e do betão que nos atira para cima, consegue manter espaços vazios. É aí que reside o seu potencial.
Essa empresa é uma empresa de parqueamento de automóveis (e pequenas também as há, sob forma de garagens, por vezes decadentes, sem condições e que, descoberta a mina há muito escavada, nem para tal foi pensada) e não produz nada: a obra está feita, apenas gasta dinheiro com o pessoal e a manutenção do espaço.
O resto é dinheirinho a entrar nos bolsos dos seus detentores. É um meio que não é um recurso, pois não se esgota, não entra na categoria de ser ou não ser renovável.

Veja esta situação, com uma entrada só aparentemente absurda de grande espaço vazio, como a convidar "Entre, entre!", entre o espaço construído ali por trás do Tribunal de Braga. Uma empresa que também tem a cidade no nome e um senhor a rir-se, no alto da sua impunidade e na cadeira assim adquirida, a dizer que voltava a fazer tudo de novo.

Ao lado, há uma praça.
Qual a razão de ser das praças?
(Voltaremos a este assunto.)

Comentários

Mensagens populares