A importância da bricolage
O mote foi dado através do livro “Duas Linhas” da autoria dos arquitectos Pedro Campos Costa e Nuno Louro, que percorreram o país no sentido Norte-Sul, seguindo duas linhas paralelas, uma pela costa (partindo de Vila Nova de Cerveira) outra pelo interior (Montesinho), com a mesma latitude e parando para fotografar de dez em dez quilómetros. Começou assim ontem o programa da RTP2, “Câmara Clara”, cujo tema central, Território e Paisagem, motivou o convite ao geógrafo Álvaro Domingues e ao arquitecto paisagístico João Nunes, os quais também escreveram, a convite dos autores, textos para o livro acima referido, livro sobre o qual eu já lera qualquer coisa no suplemento Ípsilon, do jornal Público.
Pese a tentativa da apresentadora, aliás habitual, para inserir (e imiscuir-se interrompendo constantemente) a despropósito, a sua (suposta) imensa sapiência, e conduzir a cavaqueira para determinados campos (aproveitando todos os lugares - sem ela o saber? - comuns), a conversa foi das mais estimulantes em termos de pensamento do território que presenciei em termos televisivos. Falou-se um pouco de tudo: interior e litoral; “redes” de estradas e outras ligações; agricultura; produtos regionais; “patrimonalização da paisagem”; comunicações móveis e hipertexto; regiões demarcadas; parque-tematização e encenação de espaços; de turismo e da necessidade de um actualizado “observatório do território”, entre outros.
Momento raro assistir-se a verdadeiras deambulações reflexivas sobre paisagem, não enclausurando o pensamento do geógrafo em temas (supostamente) da sua área. E Álvaro Domingues a referir que mais importante que perspectivar uma casa ou uma urbanização, por exemplo, sob (apenas) o ponto de vista estético ou mesmo funcional, importa saber-se o porquê de estas terem sido concebidas de determinada maneira. Importa saber o porquê. Daí, o investigador vislumbrar (não sabemos se levado pela emoção), “muito trabalho para o geógrafo” para se poder conhecer o território nas suas várias facetas, “antes de este ser canabilizado”. Igualmente importante foi Domingues desmontar a irrelevância (e falácia) de determinadas palavras ou expressões, como “desenvolvimento sustentável”, à qual nós acrescentaríamos “património”, já por aqui referidas, muito habilidosas para acudir a tudo e ao seu contrário.
Mais que traçar uma linha e fazer ciência, importa notar que o percurso é composto de rendilhados e de altercações, tendo-se que, não raro, recorrer à bricolage, intentando desvendar, objectivamente, como é que as coisas se apresentam, de que resultam e qual foi o seu curso. Nem sempre a imagem conjecturada que temos, e que nos é (e foi sendo) ministrada devidamente embalada, corresponde à realidade. Isto serve tanto para os centros históricos, como para (pretensas) tradições regionais, passando pelas casas dos emigrantes, ou alguns pastiches que por aí sobressaem. Daí decorrem as penas e, já agora, as construções fantasmáticas.
Pese a tentativa da apresentadora, aliás habitual, para inserir (e imiscuir-se interrompendo constantemente) a despropósito, a sua (suposta) imensa sapiência, e conduzir a cavaqueira para determinados campos (aproveitando todos os lugares - sem ela o saber? - comuns), a conversa foi das mais estimulantes em termos de pensamento do território que presenciei em termos televisivos. Falou-se um pouco de tudo: interior e litoral; “redes” de estradas e outras ligações; agricultura; produtos regionais; “patrimonalização da paisagem”; comunicações móveis e hipertexto; regiões demarcadas; parque-tematização e encenação de espaços; de turismo e da necessidade de um actualizado “observatório do território”, entre outros.
Momento raro assistir-se a verdadeiras deambulações reflexivas sobre paisagem, não enclausurando o pensamento do geógrafo em temas (supostamente) da sua área. E Álvaro Domingues a referir que mais importante que perspectivar uma casa ou uma urbanização, por exemplo, sob (apenas) o ponto de vista estético ou mesmo funcional, importa saber-se o porquê de estas terem sido concebidas de determinada maneira. Importa saber o porquê. Daí, o investigador vislumbrar (não sabemos se levado pela emoção), “muito trabalho para o geógrafo” para se poder conhecer o território nas suas várias facetas, “antes de este ser canabilizado”. Igualmente importante foi Domingues desmontar a irrelevância (e falácia) de determinadas palavras ou expressões, como “desenvolvimento sustentável”, à qual nós acrescentaríamos “património”, já por aqui referidas, muito habilidosas para acudir a tudo e ao seu contrário.
Mais que traçar uma linha e fazer ciência, importa notar que o percurso é composto de rendilhados e de altercações, tendo-se que, não raro, recorrer à bricolage, intentando desvendar, objectivamente, como é que as coisas se apresentam, de que resultam e qual foi o seu curso. Nem sempre a imagem conjecturada que temos, e que nos é (e foi sendo) ministrada devidamente embalada, corresponde à realidade. Isto serve tanto para os centros históricos, como para (pretensas) tradições regionais, passando pelas casas dos emigrantes, ou alguns pastiches que por aí sobressaem. Daí decorrem as penas e, já agora, as construções fantasmáticas.
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