O meu país: reflexões avulsas
Ultimamente tem-se comentado muito as grandes obras públicas, designadamente para a área metropolitana de Lisboa. Curiosamente, num ano apenas, os grandes desígnios nacionais, as grandes obras (onde já ouvi isto?), a alavanca que nos irá catapultar para qualquer coisa, foram analisadas, argumentadas e praticamente decididas. Ora, a mim intriga-me o facto de, por ex., no caso particular do aeroporto a coisa espraiar-se por 40 anos e relativamente à travessia sobre o Tejo, concretamente para o Barreiro, ter, pelo menos, 20 anos de “reflexões”, “apontamentos” e “estudos”. Das duas uma: ou se andou a perder tempo (e muito dinheiro) em estudos, mezinhas, aconselhamentos, “diálogo”, e não se pretendia fazer nada (sendo que mesmo tendo em conta a complexidade das questões, convenhamos que 40 anos é sempre demasiado); ou, dizíamos, esta alavanca foi forçada por algo, que eu pessoalmente desconheço, tendo obviamente em linha de conta mais uma vez, que a complexidade das questões não se terá esfumado.
Acontece que estas pequeníssimas coisas custam dinheiro. Custam dinheiro os estudos, os atrasos, o tempo a passar, as expropriações, indemnizações, adiamentos, e por fim, a obra em si mesma…mais as ligações, acessos, impactos ambientais (deste último, nem um pio, só no fim).
A complexidade de gerir isto com o ordenamento do território parece-me, de todo, esquecida ou, pelo menos, colateral. Isso mesmo é sustentado, na forma retalhada como se vai tomando decisões, colando-se depois as partes que certamente não irão fazer um todo.
Ainda recentemente um especialista em economia regional e planeamento territorial, (com duas décadas de experiência) me confidenciava que se continuava a fazer tudo de forma fragmentada para não dizer negligente, atentando apenas em critérios e análises quantitativos ou estatísticos (ainda assim pouco adaptáveis às especificidades dos locais), sem um enquadramento de carácter sociológico, histórico e psicológico. Não se podendo “pensar” um país, quando o ordenamento do território é feito de forma estanque e, por outro lado, sem superfície de contacto, com o mapa judicial ou das urgências, entre outros, levando a casos caricatos de centralizações acumuladas e de territórios regionais desconexos.
A expressão da litoralidade e a bipolarização que vem do séc. XIX, um modelo da época de Fontes Pereira de Melo, acentua-se a cada ano que passa, sob a capa do desígnio nacional. Foi assim também com as auto-estradas, começadas (como dizia um amigo meu) ao contrário e que quando chegam ao destino não encontram ninguém.
Acresce que paradoxalmente (e sem rir) quer-se atrair investimento e massa critica para o interior, fixando populações, e ao mesmo tempo, fecham-se equipamentos indispensáveis para aquelas (especificas!) populações.
Todas estas acções provocam reacções, com consequências nas cidades, potenciando as migrações e o aumento populacional das áreas metropolitanas, a betonização, concentração das forças produtivas, (e dos equipamentos), tráfego, danos ambientais e na qualidade de vida e, consequentemente, mais construção e obras públicas, num ciclo vicioso.
Por último e mais importante, será interessante saber quanto custam (e já custaram) todas as obras, incluindo o TGV, e já agora, quem vai pagar? Não seremos nós todos?
Comentários
algumas áreas simplesmente são esquecidas ou vistas numa perspectiva de gabinete.
Quanto ás fábricas, não consigo perceber que alguns indicadores (lá está, estatisticas que apenas consideram algumas variáveis) reflectem cresciemento. Aqui no Norte o que se vé é desolador.
é preciso pensar no envelhecimento das populacões e nas distâncias que não são iguais em todo o lado.
Não falo apenas de estradas mas de meios, de apoio ás gentes, de pessoas esquecidas.
sinto, e muito, que somos esquecidos.
Só se palra dos grandes acontecimentos...
Quanto ao planeamento, sei por experiência própria e de alguns que me são próximos que um simples técnico, com a maior vontade do mundo, nada pode em termos práticos do terreno, encaixado que está numa hierarquia politizada.
Por isso voltei à geografia urbana histórica, para perceber a evolução(?) da cidade. Está lá tudo. Algumas coisas não mudaram nada em 150 anos desde o “modernismo” do Fontismo.
Um abraço a todos