Uma verdadeira obra de arte!

Temos espécimes por toda a parte!
Este é um anúncio a um empreendimento turístico. Eis um excerto do texto que acompanha a sugestiva imagem:

Venha descobrir porque tantos portugueses estão investindo no litoral do sul da Bahia.

Este exclusivo destino oferece condomínios de alto luxo com casas prontas de 2 a 4 suites, ou terrenos de 1400 a 4900 m2, para construir o projecto dos seus sonhos, integrados ao mais espectacular campo de golfe da América do Sul e cercados pelo mar azul turquesa e a Mata Atlântica preservada.”


Ora, sobre isto, apraz-me dizer algo. Comecemos pela imagem. Veja o leitor quão frágil é o substrato rochoso, se é que lhe podemos chamar assim. Para além de ser de pouca coerência, e também por essa mesma razão, encontra-se em avançado processo de erosão. Estando desprovido de qualquer vegetação que o proteja minimamente, está, aliás, exposto aos agentes erosivos (vento e água, sobretudo), que muita acção exercem nas zonas costeiras. Os ravinamentos do terreno são a prova cabal dessa erosão em curso.
Ora, sabemos que a erosão é um processo natural. Mas a acção antrópica potencia ou acelera esse processo.

Como vem sendo costume vermos, estes malandros, promotores imobiliários, que não olham a quem nem sem, vêm “plantar” campos de golfe nas zonas de fragilidade elevada, e que devem estar reservadas aos processos naturais. Pensais que se rega a relva com água salgada, tão abundante, no “mar turquesa” já ali à frente? Quanto consumo de água doce para uma actividade de ricos… Para um tipo de vegetação que cumpre um papel manifestamente residual em termos biofísicos… Não protege o solo, não permite biodiversidade (isto já a contar que não a cortassem para os senhores de pança alegre fumarem um charuto de taco na mão), e, dada a sua reduzida capacidade de retenção de água, não evita o escoamento dos excessos, factor potencial de erosão hídrica.

Mas calma, que há espaço, para habitar e construir, entre o “mar azul turquesa e a Mata Atlântica preservada”! Quanta indecência! Fazem atropelos deste calibre, aproveitando o fraco poder dos cidadãos e da sua cultura democrática. A vitória particular de uns é a derrota prolongada de todos.

Fartos da porcaria em que transformámos os nossos litorais, “Ei! Olha ali! Que belo sítio para construir!”, vamos todos para lá. Se a zona está “cercada pela Mata Atlântica preservada”, o que quer isso dizer? Que está iniciada a selvajaria humana! E a resposta ao “porque tantos portugueses estão investindo no litoral do sul da Bahia” não está lá. Está na nossa falta de zelo e de exigência, na nossa ignorância e no nosso umbiguismo! Se alimentamos o crime, que faz isso de nós senão criminosos? Ah! Que prazer imenso nos dá destruir…

Vejam como se promovem coisas destas assim, sem pejo algum, e nós dizemos “Ai, que lindo!” Que revela da nossa parte uma expressão como esta?

Comentários

Rogeriomad disse…
É bem verdade tudo o que dizes.

Ainda hoje fui a Vale do Lobo e pude contemplar essas verdadeiras "obras de arte"...

Li um artigo no DN, já não lembro de quando, que dizia que o Algarve era um paraíso para as imobiliárias/construtoras espanholas que vendo o seu espaço de manobra reduzir-se no seu país, investem no mercado português, junto à costa litoral, com a certeza que é uma aposta ganha. Depois dos algarvios piscam o olho aos diregentes alentejanos.
Porquê?

Deixamos que eles façam tudo!
Qualquer investimento/projecto estrangeiro consegue luz verde para arrancar.
Sendo estrangeiro, tendo capital, criando postos de emprego. Avança!

Já se ouve por estes lados, um(a) responsável autárquica, a reclamar para o seu concelho um projecto como o da Isla Mágica.
-"Os terrenos estão em plena reserva natural a proteger";
-"o PROTAL não contempla tal projecto".
(responde a voz da contradição)

Mas o(a) dirigente contra-ataca: «com todos estes entraves, o projecto poderá "fugir" para Espanha.»

Bem...
Não "foge" nada! É só dar tempo ao tempo. Contornar a lei, por vezes, demora o seu tempo. Até parece que não estamos no Algarve...

Enfim...

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