Faço greve à morte a alastrar
Título: A Arte e A Revolução
Edição Original: Die Kunst und die Revolution (1849)
Autor: Richard Wagner
Tradução: José M. Justo
Edição: 2000
Editora: Antígona
ISBN: 972-60-805-63
Paginação: 110
Um artista, para além do prazer que nutre pela finalidade da sua prática criativa, experimenta prazer na manipulação dos materiais e na respectiva modelação; uma tal actividade produtiva é em si mesma e por si mesma compensatória e plena de satisfação, ou seja, não é trabalho.
O assalariado interessa-se apenas pelo objectivo dos seus esforços, pela utilidade que possa colher do seu trabalho; a actividade que pratica não lhe traz satisfação, constitui tão-somente um fardo, uma necessidade incontornável, que de bom grado entregaria a uma máquina. O trabalho só o prende por obrigação e é por isso que o assalariado tem o espírito ausente daquilo que faz e passa o tempo a pensar noutros objectivos que pretende atingir tão depressa quanto possível.
Se o objectivo imediato do trabalhador for a satisfação de uma necessidade pessoal, por exemplo, construir uma casa, produzir os seus próprios instrumentos de trabalho ou confeccionar as suas roupas, então, juntamente com o prazer nos objectos úteis que vai tendo ao seu dispor, há-de ir crescendo a tendência para trabalhar os respectivos materiais segundo imperativos do seu gosto pessoal. Ou seja, uma vez obtido o fundamental, a actividade produtiva orientada para necessidades menos prementes, tenderá a elevar-se o nível de arte.
O assalariado interessa-se apenas pelo objectivo dos seus esforços, pela utilidade que possa colher do seu trabalho; a actividade que pratica não lhe traz satisfação, constitui tão-somente um fardo, uma necessidade incontornável, que de bom grado entregaria a uma máquina. O trabalho só o prende por obrigação e é por isso que o assalariado tem o espírito ausente daquilo que faz e passa o tempo a pensar noutros objectivos que pretende atingir tão depressa quanto possível.
Se o objectivo imediato do trabalhador for a satisfação de uma necessidade pessoal, por exemplo, construir uma casa, produzir os seus próprios instrumentos de trabalho ou confeccionar as suas roupas, então, juntamente com o prazer nos objectos úteis que vai tendo ao seu dispor, há-de ir crescendo a tendência para trabalhar os respectivos materiais segundo imperativos do seu gosto pessoal. Ou seja, uma vez obtido o fundamental, a actividade produtiva orientada para necessidades menos prementes, tenderá a elevar-se o nível de arte.
Mas se o trabalhador aliena o produto do seu trabalho, resta-lhe apenas o valor abstracto do dinheiro, e a sua actividade, não podendo elevar-se acima da produtividade mecânica, representa somente esforço, trabalho triste e amargo. É esta a sorte dos escravos da indústria. A imagem lamentável que dão as nossas fábricas é a da mais profunda indignidade humana: um labor contínuo, tantas vezes quase destituído de objectivos, destruidor dos corpos e dos espíritos.
E também neste ponto a influência deplorável do Cristianismo não pode ser negligenciada. Do ponto de vista do Cristianismo os objectivos do homem são totalmente alheios à vida terrena e concentram-se em Deus, num deus absoluto e exterior ao mundo dos homens. Consequentemente, a vida só pode constituir objecto de preocupação humana no que respeita às necessidades mais imediatas, já que cada um de nós, ao receber a vida, contraiu também a obrigação de a conservar até que Deus entenda ser chegado o momento de nos libertar desse fardo. Tais necessidades, contudo, não devem nunca despertar-nos para uma manipulação apaixonada da matéria de que nos servimos para as satisfazer.
Só o objectivo abstracto da estrita conservação da vida pode justificar a actividade sensorial do homem. E é assim que hoje em dia se podem observar os horrores de uma encarnação perfeita do espírito do Cristianismo, por exemplo, numa fiação de algodões, onde Deus se tornou indústria para benefício dos ricos e onde o pobre trabalhador cristão só é mantido vivo até ao momento em que as celestiais constelações empresariais se decidam pela piedosa necessidade de o dispensar para um mundo melhor.
(pp. 71-74)
(pp. 71-74)
É este o mesmo espírito dogmático do sempre crescimento capitalista que considera a Natureza como um bem a utilizar para benefício do homem.
"A ideia de que o crescimento económico constitui um fim em si implica que a sociedade é um meio." (François Flahaut, "Le paradoxe de Robinson", 2005)
"Não só a sociedade está reduzida a ser apenas o instrumento ou o meio da mecânica produtiva, mas o homem tende a tornar-se o resíduo dum sistema que visa torná-lo inútil e a passar sem ele." (Serge Latouche,"Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno", Ed. 70, 2011, p. 18)
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