Quando o avanço da técnica corrobora o atraso moral

1
Prà rua ia üa figura, Nuno Santos, assim lhe chamaram da banda de lá, da banda da GNR, a tal do Um Dó Li Tá, quem está preso preso está.
Assi lhe preguntaram:
- Qu'é isso, compadre irmão de todos os que cá 'stavam e para lá foram: agora tu também vais prò céo?
Ao que o home respondeo:
- Eu num vou: elles me lleban. Bela prisão esta, a que convostedes me juntam.
Para mais sclarecimentos u informaciones, cunbém tirar provas com o Relvas e sua cu-mandita-mandada.

2
O pugrama Clara Câmera está prestes a atingir o orgasmo: a coroação é o fim e as palmas que se erguem são para o calar. A voz enserenadora de Luís Caetano é a rainha a morrer: viva a rainha, aplaudem da Ponte os Senhores Doutores Albertos das Cervejas e os amigos dos Compáis.
Assi também se fuíram o Coelho que Acontecia e mais o Rosa Mendes e a Raquel Freire, que tiveram que emigrar, porque iesta tierra num é par bós. Ah, esperai um cachico, que o Rosa Mendes já 'staba lá fuora.
Mas agora que os processos submarínicos de privatização da nossa retrete pública estão concluídos e que a venda de 49% da RTP eliminará, diz o rei Borges (outro doutor que os cegos num puderam eleger) a “extraordinária tentação que tem o poder público de intervir na televisão”, agora, íamos dizendo, vamos ver finalmente a "a extraordinária tentação que tem o poder privado de intervir na televisão".
Passa a redundância e a troca, sem possibilidade de escrutínio...

3
Também a escolha, obscura, da Rosa Veloso para correspondente em Madrid cheirou tão mal que levou o Rodriguinhos a sair do cargo que aquele primeiro inforcado de cima foi ocupar.
E se as pressões por algo que o Marcelo, não o Caetano, mas o sobrinho, tenha dito também levou a uma comissão de inquérito parlamentar que em nada deu, agora vem a TVI querer meter o bedelho no Governo Sombra, razão pela qual também este pode bem chegar ao fim.
Que se estará a passar dentro da fortaleza do Eixo do Mal para nengun turpedo atingir aqueles ímpios?


4

Na Madeira, o senhor Raimundo Quintal foi acusado judicialmente por uma empresa de construção, a BRIMADE - Sociedade de Britas da Madeira, S.A., por estar a ofender o seu bom nome. Motivo: Quintal aponta a extracção de pedras e britagem na ribeira de Santa Luzia. Como os seus apontamentos não extravasam o direito de liberdade de expressão e são críticas cientificamente fundamentadas, o juíz não lhe pôde apontar qualquer pena. Caramba! o poder dos que querem fazer dinheiro ainda não conseguiram atingir o direito de falar... Pelo menos neste caso não foi suficiente.


5

Em Braga, enquanto os velhotes de Diário do Minho na mão vão, parados, olhando as obras que o cimento armado tece contra o espaço privatizável...
- a estrada é de quem a usar, sim, mas os materiais que lá puserem são de algures, foram extraídos e trabalhados pelas empresas costumeiras do compadrio corrupto e foi para elas que se dirigiu, canalizado sem podermos mexer a nossa palha, o dinheiro que indirectamente para lá atirámos - 
... as ruas continuam escuras, a iluminação da época consumista consome muito e ainda não foi ligada - para bem de todos os bracarenses, que protestam em risos desbragados com os dentes amarelos do desemprego e do desamparo, o ruído e o pó imperam e, mesmo em frente dos nossos olhos contentes, vão substituindo as flores dos canteiros do cimo da Liberdade. Bela forma de renovar o contrato com os jardineiros (coitados, não têm culpa, não é?), rentabilizar a negociata "verde" e chupar mais um bocadinho do sangue dos contribuintes que podem contribuir só pra dar dinheiro mas não para escolher o que fazer com ele.
É idêntica a acção medieval que repetem no Porto do Funchal, ao despejar recursos que o mar insiste em levar enquanto a lei de meios insiste em pagar e os burgomestres insistem em aplicar.


6

O Dióxido de Cloro é um produto desinfectante, usado em muitos Estados europeus e americanos para tratar as suas águas, que, ao contrário do hipoclorito de sódio (lixívia), não provoca metabolitos cancerígenos. Embora esta seja usada em toda a Espanha.
O Império ataca sempre três vezes e por isso Andreas Kalcker enfrenta pena de prisão e uma multa entre 90 e 100 mil euros. "Não querem argumentos, usam a força" do dinheiro. Para vergar a razão.

7
"Portugal subiu oito lugares no índice sobre desempenho nas alterações climáticas, sendo o 3.º entre 58 países, um comportamento justificado pela crise e pela política energética", desta notícia nos encheram os ouvidos, mas "as previsões de seca são as piores para Portugal e por isso são necessárias políticas para reduzir a vulnerabilidade. Neste momento 28% do território está em seca, enquanto 21% está em boas condições. O número e a intensidade das secas tende a aumentar, durante o seculo XXI, especialmente nos cenários com maior aumento dos gases de efeito de estufa." 
"Portugal tem das maiores variações do índice de produtibilidade hidroelétrica da Europa, o que coloca desafios à produção de energia elétrica com necessidade de um sistema de apoio por outra fonte de energia. Este ano Portugal já perdeu 250 milhões de euros pela importação de combustíveis fósseis e de eletricidade devido à seca do início do ano." (Quercus)

E com as construções na zonas húmidas dos nossos litorais e com a submersão de muitas zonas ribeirinhas com "potencial de negócio" via chupistas da electricidade... de Portugal, dizem eles, que estamos nós a fazer para inverter ou travar isso?
Somos melhores, mas não é por nossa mão: é por desleixo.
E se pioramos nos indicadores de qualidade ecológica, não é por desleixo, mas por acções. Erradas.
Donde se depreende que era bem melhor morrermos todos e deixarmos a Terra em paz.
Recuperaria no seu ritmo, mas era um instantinho comparado com as porcarias que andamos a fazer desde a revolução industrial.

8
Apesar da tentativa (e da parvoíce na cerimónia dos Prémios da Gazeta) o presidente de alguns portugueses continua calado.

9
Em Alberta, no Canadá, está à espreita o negócio da extracção de petróleo a partir de areias betuminosas. Os chacais, venham eles donde vierem, estão prontos a abocanhar os lucros e a deixar por lá, a espalhar-se, os detritos e seus problemas ambientais. Que não é nada com eles. Nem connosco. Uma reportagem fotográfica do Daily Mail mostrava imagens de meter medo, mas por algum motivo que desconhecemos "the page you search does not exist".
Mas há esta notícia, com algumas imagens.
E as forças da autoridade, já habitual e esperadas, controlam manifestantes.

10
No bairro de Santa Filomena, na Amadora, mais pessoas foram desalojadas sob as forças policiais. As forças da ordem, braço armado da força do dinheiro.
Para desalojar e poder demolir sem matar ninguém. 
Para rentabilizar o espaço. Com o espaço já cuidadosamente trabalhado pelo poder económico, lá mais não conseguirão entrar. Paredes económicas limitativas, segregacionistas os afastam do sítio donde foram expulsas.
Fizeram o mesmo para construir a barragem das Três Gargantas e fazem o mesmo para expandir as cidades, quando estas, infladas pela pobreza dos que a ela chegam, crescem demasiado rapidamente.
Saber mais aqui.

11
A polícia aguentou horas, não quis dissuadir os davids e deu-lhes, aos davids e a outras personagens que nada tinham que ver com aquela história nada bíblica, com uma "carga de serenidadezinha". Como se o uso da violência fosse apanágio das forças que estão do lado da Democracia. 
Parabéns aos polícias, então.

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Como é bom viajar a preços baixinhos, nas companhias de baixo custo tão na moda, os tráfegos nos aeroportos e a massificação do turismo aumenta de ano para ano. Malgrat a perda de poder de compra. Ou, melhor, DEVIDO à perda do poder de compra. Por isso, em Nantes se preparam para - oh! consequência impensável! - construir um aeroporto. Na luta contra está a ZAD - Zone a Défendre, cuja página na internet foi "classificada por uma autoridade" (?, qual? porquê? para quê?) como não segura.
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"Os cidadãos das democracias antigas, que passavam o dia em discussões sobre os negócios da cidade, em debates públicos, ao ar livre, escutando o orador do momento, passeando no fórum, não se poderiam conceber no clima húmido e enevoado de Londres ou de Hamburgo, que, pelo contrário, favorece a vida interior, no club e no lar.
A construção rápida de cimento armado está mudando a fisionomia das cidades, tanto pela demolição dos bairros velhos e pitorescos como pelo alastrar de subúrbios industriais e dormitórios, de altos e insípidos edifícios, tristes símbolos da vulgaridade de uma civilização universal, arrogante nos seus recursos mecânicos mas empobrecida no conteúdo humano. Nada o mostra melhor que a aviltante renovação das cidades."

Orlando Ribeiro, "Portugal, O Mediterrâneo e O Atlântico
(primeira edição em 1962)


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