Esfregar as mãos em tempo de gripe


Agentes portadores de (uma outra) gripe em Braga.
Montagem de Eduardo F.


Os corpos suados dos jogadores que se abraçam quando marcam golos ostentam nas costas quatro palavrinhas que nos fizeram reflectir. Hospital Privado de Braga, são elas. Vermelho e branco, o equipamento. Futebol, o desporto. S.C.B., o clube.
(Ah! ao lado acompanha-lhes uma outra palavra. Que não vem dicionário mas cujo significado não passará despercebido. Britalar é ela.)

Ontem, 31 de Agosto, foi o dia limite.
A Saúde é de todos. Esfreguemo-nos de contentes. Mesmo em tempo de gripe, dêmo-nos por contentes, que agora o concelho de Braga vai ter melhores e maiores acessos a cuidados de saúde. Todas as especialidades e mais alguma ao dispor dos clientes... perdão!, UTENTES, nós dissemos Utentes.

O Estado apetrechou esta nova unidade com os mais modernos equipamentos e coisa e tal. O Estado investiu. Isto é, nós investimos. Milhares de euros, sabe-se lá quantos. E investir na Saúde é acautelar o futuro.
"A cavalo dado não se olha dente, meu filho."

Foto de Eduardo F., Nogueira, Braga, 12.03.08.


Ontem, 31 de Agosto, foi o dia limite.
Hoje, a empresa do grupo Trofa Saúde pega na administração da unidade.
E já esfregam as mãos de contentes.
Prevêem-se sucessos de gestão estrondosos e lucrativos.
"Para provar que o Estado não sabe gerir e que é sempre preferível, para os portugueses, entregar aquilo que pertence a todos a uns quantos que estão a tomar conta de tudo.
Para comprovar e erguer a bandeira do empreendedorismo com futuro em Portugal.
Vivam os grupos económicos! Abaixo o Estado!
(excepto para abrir nos caminho...)"

Proponho o seguinte: destituirmos não o Governo, mas o Estado.
Assim, só para experimentar. Só durante, vá lá, uns dois mesitos.
Para ver se concluímos que é verdade que o Estado é apenas uma fachada atrás da qual tudo se desenrola com a normalidadezinha em que temos vivido.

O Estado, a acreditarmos neste postulado, apenas existe para garantir a coesão social.
Ao atribuir os subsídios de desemprego, invalidez, ao patrocinar instituições que retiram da miséria um número estatístico de pessoas dando-lhes a esmola com que aguentam a sua vidinha...

Foi a isto que reduzimos o Estado.
O Estado é o primeiro a apoiar as empresas e é o primeiro a ser criticado pelas empresas.

"Não votes para não perder o poder" era uma das ideias escritas nas paredes da cidade nos anos 80. Uma espécie endógena de "Sejamos razoáveis, exijamos o impossível".
Olhem como fazem sentido aquelas palavras!...


Despesas públicas, ganhos privados.
Sementes da plebe, frutos para os reis.
Num tempo de gripe que há muitos, muitos anos assola esta terra mesquinha e podre.

Escandaloso. Degradante. Intolerável.
Inqualificável? Não
Perfeitamente normal.
Perfeitamente normal.

E o actual presidente do SCB ser - vejam lá a coincidência! - o administrador da empresa Britalar nada traz de novo. Nem o hábito de ser a grande / habitual vencedora dos concursos para construção e reconstrução que por cá se fazem. Porque a promiscuidade entre negócios e entretenimento, entre serviços públicos de fachada e interesses privados destruidores, entre política e empresas, é do que mais se semeia por estas terras de betão.
E que frutos bem gostosos elas dão.

Mas nós sabemos bem quem eles são, foram e, por sucessão dinástica, nunca votada, continuarão a ser.
E olhá-los-emos sempre pelas mãos.
Venham eles vestidos de cónegos, padres e bispos, de ministros, vereadores e autarcas, de gestores de empresas, hospitais e bancos, de administradores de construtoras ou de presidentes de clubes de futebol.
As mãos, e o que nelas está, não mentem.

Por mais tempo que demorem a lavá-las sempre transmitirão doenças malignas.
Podem não matar tanto como outras (aprendemos a viver no meio da imundície), mas corroem-nos por dentro até ao tutano.
Braga como laboratório da democracia nacional.
Maior e saudável. Da Democracia falamos.

É bom roubar em Braga!

Comentários

Caesar disse…
Eu acho que vai aqui alguma confusão...
O hospital a que te referes, em Nogueira, o Estado nada teve a ver e nem investiu um centimo! É um hospital totalmente privado.
Mas sim, o dia 31 de Agosto foi o limite para o Hospital de S. Marcos que passou para a gestão de privados. Mas esses privados são o grupo Mello e uma construtora de Lisboa. Não tem nada a ver com a Britalar.

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