Mudar de Vida

O título deste texto alude ao filme de Paulo Rocha (de 1966), também celebrizado pela sua banda-sonora, da autoria de Carlos Paredes.

Não sabemos em que medida as mudanças de hoje nos são impostas. Urgem. E é isso que temos de compreender.

A toda a volta vemos fábricas a fechar e a despejar no vazio do sem-futuro a matéria que faz o mundo girar. Crise, dizem os seus proprietários, gestores e accionistas.
O objectivo de uma empresa cotada na bolsa de valores é garantir lucro aos seus accionistas. Soa tão bem, não soa? Já sabemos que é assim, não sabemos? E isto soa ainda melhor, não soa?

E a palavra reconversão, como nos soa?
Meditemos sobre ela.

Conta o outro, citado na citação da citação... que as palavras não se perdem quando se repetem de boca em boca:

"Mãe, quando crescer, quero mudar o mundo"

Assim falou o Homem.

E conseguiu!
O Homem mudou o mundo.

Alterou o curso da História da Terra. Se o passado nos trouxe até aqui, que diremos do futuro? Por quanto mais tempo nos é ele garantido? Garantido não é bem a palavra... permitido será mais correcta.

O Homem mudou o mundo.
Mas com o mundo agora mudado, o Homem ainda não mudou.
E tem que mudar. Quanta violência pode conter este "tem que mudar"? Não a suficiente para nos ter já obrigado a.

Por todo o lado há sinais. A dita crise económica poderá ser um deles, mas tal como nos é apresentada pelo discurso dos que, ao contrário dos que deixam de ter, vêem descer os níveis do que têm (comummente chamado "lucro") e das respectivas correias de transmissão do pensamento contrário ao que "tem que mudar", essa mesma crise económica apenas parece estar a ocultar ainda mais a real gravidade da crise. Crise com letra maior.


Da forma que construímos as nossas casas e vidas - quanto mais afastadas da Natureza, mais evoluídas, dizem - ainda não percebemos que somos iguais aos animais que têm de escalar as montanhas em busca das temperaturas suportáveis pelo organismo.

A mutação - na vida que mudámos, a vida que muda, a vida que nos muda - está a transformar-nos em ursos polares. Com o gelo a derreter, já o sabemos, morreremos afogados.


Milhões de pessoas fogem para as cidades em busca de trabalho.
Milhões de pessoas buscam outras terras, aráveis, que lhes dêem de comer.
Milhares de pessoas estão a abandonar as suas ilhas de palmo e meio, porque as ondas não precisam de ser gigantes para serem demasiado altas.
Milhões de pessoas estão a ficar sem água potável.
À sombra do vulcão, milhares de pessoas aguardam as avalanchas do futuro.

Milhões de pessoas lutam por sobreviver.
Num mundo esterilizado pela poluição, pela guerra, pela delapidação dos recursos naturais e humanos... qual o caminho?


Quantos anos nos trouxeram até aqui?
-
Quantos anos demorámos a mudar o mundo?
=
Quantos anos separam estes dois conjuntos de anos?

O que se verifica nesta equação resume-se a uma palavra: insustentabilidade.
E insustentabilidade significa uma de duas coisas. Ou uma ou outra, portanto:

1 - necessidade de adaptação
X
2 - morte inescapável


O Homem mudou o mundo mais rapidamente que o tempo que esse mundo - ESTE - precisa para mudar. E para NOS mudar.

Escolhamos.


Agora, com o mundo mudado, muitos mundos deixaram de fazer sentido. Com novos olhos, com a nova concepção do mundo, deixámos - num ápice - de ter razões para sustentar esses mundos, de repente ultrapassados.

Novos esforços se requerem. A mudança necessária.
Na busca de um só objectivo. E um só, porque urgente:
a sobrevivência.

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