Ainda o fogo (sobre diagnóstico e coragem Vs. desinteresse)
"Não somos um país florestal. Em meados do séc. XIX, o pinhal de Leiria era a mancha florestal mais extensa. Depois da monarquia, houve uma florestação. Seguiu-se uma segunda, nos anos 50, no Estado Novo. E, por mais que custe, a gestão florestal era boa, ao contrário de hoje.
Era boa porquê?
Havia espaço para florestar em zonas onde viviam pessoas. Hoje, não temos condições para o mesmo tipo de florestação. Quem quiser plantar floresta para rendimento, tem boas hipóteses de nunca lucrar nada. Alguns concelhos arderam todos num espaço de dez a 15 anos.
Hoje, como disse, o interior está deserto [despovoado, talvez quisesse ter dito...] e é mais fácil mudar a floresta de sítio do que as pessoas. E a dimensão dos fogos tem a ver com o ordenamento do território. Não podem autorizar-se casas no meio da floresta. E os Planos Directores Municipais (PDMs) permitiram a construção em zonas que têm vindo sempre a arder.
Claro que os bombeiros tentam primeiro salvar pessoas e casas. Mas isso não significa deixar a floresta arder. Há dias ouvi um governante muito contente, porque no Gerês, o único parque nacional, não arderam casas. Felizmente. Mas e a floresta, que leva 30 a 40 anos a reconstruir?
O seguro de casas contra incêndios devia ser obrigatório, com prémio proporcional ao risco. Quem não limpasse, pagava mais."
Excerto de uma mini-nano entrevista a Pedro Almeida Vieira, na Visão de 19 de Agosto de 2010 (p.16)
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