"Portugal - O Sabor da Terra", de José Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo
Título: Portugal - O Sabor da Terra
Autores: José Mattoso, Suzanne Daveau, Duarte Belo
Edição: Abril de 2010 (2ª ed.)
Editora: Temas e Debates - Círculo de Leitores
ISBN: 978-989-644-099-2
Paginação: 688 páginas
Autores: José Mattoso, Suzanne Daveau, Duarte Belo
Edição: Abril de 2010 (2ª ed.)
Editora: Temas e Debates - Círculo de Leitores
ISBN: 978-989-644-099-2
Paginação: 688 páginas
A rubrica Livro do Mês regressa com uma obra publicada pela primeira vez em 1998 e há muito esgotada. Os seus autores, para os mais distraídos, são garantia de termos um excelente trabalho em mãos. José Mattoso, um dos mais prestigiados historiadores portugueses de sempre, Suzanne Daveau, a "esposa de Orlando Ribeiro" e grande divulgadora de Geografia, Duarte Belo, mais conhecido pelo seu trabalho na área da Fotografia que no da Arquitectura, em que se formou em 1991.
Neste hiato de 12 anos que separam as duas edições vimos o país alterar-se bastante. Tal como os autores dizem, no prefácio a esta 2ª edição, entre essas mudanças "pode-se apontar a cada vez maior concentração da população nas áreas urbanas próximas do litoral, o atrofiamento dos equipamentos e serviços do interior, uma alteração do peso da economia do "Norte" em relação com a do "Sul", a influência dos imigrantes na economia e na cultura, o grau de massificação cultural comandado pela televisão e pela internet, a completa generalização da comunicação por telemóvel. Estes fenómenos parecem irreversíveis: tornam cada vez mais residuais ou tristemente moribundas as tradições e a cultura popular."
No meio de tanta perda e descaracterização (a segurança dos tempos em que a nossa capacidade de apreender, sistematizar e problematizar não era tão levada na enxurrada do ruído mediático e do torvelinho urbano-civilizacional..), conhecer e descrever identidades (culturais, regionais ou de outro tipo) apresenta-se como uma tarefa ainda mais complexa.
"A crise económica de 2008 e o seu prolongamento até hoje, em vez de esbater as desigualdades, aprofundou a pior de todas elas: ter ou não ter emprego; o Portugal rural é cada vez mais diferente do urbano, porque se vai aproximando do deserto; na mesma medida, o litoral opõe-se cada vez mais ao interior. Se estamos mais perto de ser "um só pais" [citando o sociólogo António Barreto], é porque o rural, o interior, pelo menos aparentemente, deixa de contar: deixa de ter escolas, serviços médicos, maternidades, polícia, transportes públicos."
No entanto, podemos sempre tentar enunciar traços que nos distinguem e que nos unem. As particularidades são aquilo que nos identifica, e estas são não raras vezes indissociáveis das especificidades regionais. Mais uma vez, a afirmação de que não devemos descurar a nossa relação com a Natureza, tantas vezes "invisibilizada" por uma falta de sentido civilizacional insustentável.
É das raízes que este livro fala e que este livro procura esboçar. Ilustrado com bastantes fotografias (praticamente uma por página... e são muitas, as páginas...), as descrições histórico-geográficas são elucidativas do que somos e/ou do que já fomos.
Além de elucidativo, trata-se, na mesma medida, de uma obra muito apelativa à leitura e à consulta. Tal como consultaríamos um guia de viagem, percorrendo as páginas em busca da referência ou da menção a este ou a tal monumento, evento, povoação ou paisagem. Ou seja, antevê-se uma boa experiência de conhecimento e de auto-conhecimento.
Uma última nota prévia:
Na "olhadela" que demos, não vislumbrámos o motivo por que apenas são centra nas regiões continentais de Portugal. O que, de certa forma, torna esta excelente obra numa obra menos excelente. Não obstante, é um livro que recomendamos a todos os que se interessem por esta terra marginal a que chamamos Portugal.
Boas leituras geográficas.
Neste hiato de 12 anos que separam as duas edições vimos o país alterar-se bastante. Tal como os autores dizem, no prefácio a esta 2ª edição, entre essas mudanças "pode-se apontar a cada vez maior concentração da população nas áreas urbanas próximas do litoral, o atrofiamento dos equipamentos e serviços do interior, uma alteração do peso da economia do "Norte" em relação com a do "Sul", a influência dos imigrantes na economia e na cultura, o grau de massificação cultural comandado pela televisão e pela internet, a completa generalização da comunicação por telemóvel. Estes fenómenos parecem irreversíveis: tornam cada vez mais residuais ou tristemente moribundas as tradições e a cultura popular."
No meio de tanta perda e descaracterização (a segurança dos tempos em que a nossa capacidade de apreender, sistematizar e problematizar não era tão levada na enxurrada do ruído mediático e do torvelinho urbano-civilizacional..), conhecer e descrever identidades (culturais, regionais ou de outro tipo) apresenta-se como uma tarefa ainda mais complexa.
"A crise económica de 2008 e o seu prolongamento até hoje, em vez de esbater as desigualdades, aprofundou a pior de todas elas: ter ou não ter emprego; o Portugal rural é cada vez mais diferente do urbano, porque se vai aproximando do deserto; na mesma medida, o litoral opõe-se cada vez mais ao interior. Se estamos mais perto de ser "um só pais" [citando o sociólogo António Barreto], é porque o rural, o interior, pelo menos aparentemente, deixa de contar: deixa de ter escolas, serviços médicos, maternidades, polícia, transportes públicos."
No entanto, podemos sempre tentar enunciar traços que nos distinguem e que nos unem. As particularidades são aquilo que nos identifica, e estas são não raras vezes indissociáveis das especificidades regionais. Mais uma vez, a afirmação de que não devemos descurar a nossa relação com a Natureza, tantas vezes "invisibilizada" por uma falta de sentido civilizacional insustentável.
É das raízes que este livro fala e que este livro procura esboçar. Ilustrado com bastantes fotografias (praticamente uma por página... e são muitas, as páginas...), as descrições histórico-geográficas são elucidativas do que somos e/ou do que já fomos.
Além de elucidativo, trata-se, na mesma medida, de uma obra muito apelativa à leitura e à consulta. Tal como consultaríamos um guia de viagem, percorrendo as páginas em busca da referência ou da menção a este ou a tal monumento, evento, povoação ou paisagem. Ou seja, antevê-se uma boa experiência de conhecimento e de auto-conhecimento.
Uma última nota prévia:
Na "olhadela" que demos, não vislumbrámos o motivo por que apenas são centra nas regiões continentais de Portugal. O que, de certa forma, torna esta excelente obra numa obra menos excelente. Não obstante, é um livro que recomendamos a todos os que se interessem por esta terra marginal a que chamamos Portugal.
Boas leituras geográficas.
Nota: Envie a sua sugestão de leitura para georden@gmail.com que posteriormente publicaremos neste mesmo espaço.
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