Vícios hollywoodescos

Há um não escrito ditado estadunidense - ou pelo menos difundido pelos meios da Madeira Sagrada (sob prescrições governamentais, acreditamos) - que caracteriza o conflito dos poderes.

O dito não-ditado, mas praticado, aparece nos moldes seguintes: um polícia (símbolo do poder militar do Estado) não deixa passar o actor principal àquela hora da noite; ou por aquela porta (que é só para pessoas "não estranhas ao serviço"). No entanto, a estrela do filme, com o seu sorriso sedutor virado para a câmara, saca uma nota do bolso (aqui, símbolo do poder económico sobre tudo o resto), e faz o polícia retroceder na sua firmeza e pensar na decisão que estava prontinho para dar: só lhe faltava a senha.

Estais a imaginar a estrela do filme a acenar com a nota na mão, e o polícia (ou qualquer personificação do poder na circunstância em caus), qual criança a lutar por chegar ao seu chupa-chupa, a ter que ceder algo em troca?

Quantas vezes não vimos já isto passar-se. A chamada "mundialização" (um nome então novo para encapotar o já por demais conhecido "capitalismo") veio espalhar hábitos, costumes e não-ditados da mesma família.


Ver a beleza projectadaLer o discurso vazio dos vereadoresPovo de Guimarães, 5.12.08, pp. 1-2
(Clicar para detectar, além dos erros ortográficos da jornalista, os vícios do discurso do vereador: as redundâncias, o vazio e as promessas)


No caso, o que se costuma ver por estas bandas, à força da nossa pequenez geográfica, económica e mental, é essas notinhas estarem revestidas sob a forma de empregos. Não sei se estais a ver o filme, mas aqui os papeis invertem-se: o poder económico assume-se numa "persona" do poder político e administrativo (normalmente um vereador de uma Câmara Municipal) e aqueles que vão ser comprados não pertencem a poder nenhum (pelo menos, enquanto não reconhecerem o poder de que dispõem).

Então, o poder acena para o público, desesperadamente ansiando pelos doces que lhe serve de sustento. E o público reza, na sua negligência atrasada:

"Amén! Salvai-nos dos nossos desempregos. O dinheiro estará no meio de nós"

Esta é a solução final para um país que foi destruindo a sua economia produtiva e que se limita a vender. Mais valem empregos precários que empregos nenhuns.

Não duvidamos que haverá camisolinhas de lã suficientes para manter a corte muito frequentada, a julgar pelas confusões, a evitar a todo o custo, que convergem aos fins-de-semana para a catedral do consumo e de contemplação já existente (Guimarães Shopping).

Os poderes representados já sabem.
Mas do nosso lado, já nos perguntámos realmente:

- Será que é isto que queremos?

?

Comentários

Rogeriomad disse…
ahah

Muito irónico...

Devia ter lido esta antes da outra sobre o Algarve, pois no fundo Guimarães, também, se anda a prostituir! ahah

O filme que fazes é fabuloso... isto tudo dito oralmente, de forma teatral, seria de levantar o coco a rir...

Abraço,

Rogério

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