Mutantes

Vidal: Braga, Av. Central, Fevereiro 08.

Não deixa de ser interessante como neste país se vive permanentemente num gigantesco faz de conta, com carácter vitalício, asseguramos. Quando se faz algo, previsto na lei por Ex., esse algo é realizado no estritamente necessário e, se possível, de forma aparente, imediata, “pública”. Neste caso nem interessa ser a mulher de César mas fundamentalmente, parecê-lo. Os efeitos práticos, isto é, se servirá para alguma coisa, são devaneios, apanágio de visionários ou poetas. Atente-se na imagem:

Braga. Avenida Central. Um Multibanco, apetrechado, à primeira vista (eu diria vista desarmada) com as novas “tendências” (é assim mesmo) relativas à decoração e imagem, assim como as mais modernas acessibilidades para pessoas com mobilidade reduzida. Debalde. Na realidade, a altura obedece às características minimais para se acessar em cadeira de rodas, por Ex., não fosse o mau jeito de, não um, mas dois, patamares de acesso. Nestes, para além da altura e da mini escadinha, observa-se (não sei se seria para o efeito) um espaço reduzido para qualquer cadeira de rodas, desde que, claro está, consiga, apesar de tudo, subir. Ainda estou para aqui a pensar se seria esse o objectivo…subir(?).

Resta a opção mutante. Se não serve para subir, se apresenta uma altura “razoável” e um desnível considerável, apenas resta o recurso a outras opções. Esticar o braço como o homem elástico, materializar-se dentro da caixa, voar, (mas neste caso não precisaria de cadeira, pois não?), ou qualquer outro poder. De resto, sempre pode pedir a alguém de confiança(?) para lhe levantar dinheiro. Gente honesta não falta…

Comentários

Anónimo disse…
As novidades tão apregoadas no longuínquo "Ano Europeu para as Acessibilidades" cairam em desuso meus senhores! Qual rampinha, qual carapuça! O nosso País continua a ser bem pequenino e coitadinho, portanto vamos continuar a desviar o olhar aos que estão abaixo dos nossos olhos, dos que estendem a mão, dos cegos encontrões e das outras tantas aberrações que enchem o quotidiano dos "outros". Na minha outra vida coimbrã, aproveitei a visita do meu irmão para lhe mostrar alguns sítios. Foi a única vez que ele esteve longe de casa e foi horrível quando me apercebi que não conseguia que a cadeira de rodas não entrava na casa de banho! O episódio mais hilariante foi quando tentei entrar no "Portugal dos Pequeninos"...ele não consegui passar pela entrada e ainda me perguntaram se queria entrar! Afinal comprovou-se que não vivemos numa democracia...
Edward Soja disse…
Exemplos abundam por todo o lado.

O mundo está cheio de pessoas "normais", que são as que constroem estes obstáculos.

O problema, são, e ao contrário das teses similares a racistas que defendem que é assim para todos, essas pessoas "normais".

Mais um exemplo em que há desequilíbrio de representatividade nas opções que nos governam o quotidiano.
Vidal disse…
A nossa democracia bonsai lá vai sendo podada, com jeitinho e genica. Um destes dias não restará grande coisa. Como dizia Pessoa na Tabacaria, vestiu o Dominó errado e foi logo reconhecida por quem não era. Vai ganhar, verás amiga,verás ceratmente minha amiga, o mundo asséptico, fútil e magrito. Um mundo aparentemente…Como diz um amigo meu, este país não se cumpre, mas vende-se. Força!!!

Mensagens populares