Estes estranhos nomes... (II)
Foto: António J. M. Correia
Cortesia Registos Geográficos
Portugal não pode considerar-se inteiramente moderno enquanto ainda tiver lugares chamados Má Vontade (Faro). Qualquer belga sente-se ridículo quando as forças das circunstâncias o obrigam a escrever num envelope, só porque quer mandar um cartão de Natal ao amigo que tem no Machico, “João Madeira, Vivenda Porto da Cruz, Ribeira Tem-te Não Cais”. Ribeira Tem-te Não Cais, tal como o anterior Fonte do Bebe e Vai-te, não é, muito simplesmente, admissível.
Os Portugueses adoram estas coisas, mas elas não podem continuar. Aliás, a própria CEE certamente não irá permitir.
No Ano Europeu do Ambiente, há pelo menos um sítio onde seria indispensável realizar uma conferência internacional - é em Sujeira, no concelho de Coimbra. Para não falar do absurdo que é ter dez Infestas, o que já ultrapassa qualquer infestação, sem contar com os São Mamedes e os São Raimundos da mesma. Como se tudo isto não bastasse, há ainda uma indesculpável aldeola no concelho de Ferreira do Zêzere chamada Infestinos.
Claro que há algumas hipóteses mais positivas. Por exemplo, seria um êxito organizar um concerto da Tina Turner em Pretarouca, no concelho de Lamego. Há terras com nomes que parecem títulos de livros de Eugénio de Andrade, como Ferido de Água (concelho de Paredes). Há saldos de todas as espécies. Toda a gente conhece o Vale de Pegas (Albufeira) e a Venda das Raparigas (Alcobaça), mas há lugares mais especializados como a Venda da Luísa (Condeixa-a-Nova) ou a Venda da Gaiata (duas em Tomar, uma em Pedrógrão Grande) e ainda lugares lamentavelmente racistas, como seja a infame Venda dos Pretos, em Leiria. Com nomes destes, nunca haveremos de ir a lado nenhum.
O desenvolvimento não se compadece com estes barbarismo e idiotismos. Não haverá fundos regionais para sítios chamados Fofim de Além e Fofim de Aquém (Vila Nova de Gaia), Fonte do Judeu Morto ou Marmelar? Mesmo as terras com formas verbais (as minhas predilectas) como “Farto” (Arcos de Valdevez) e “Gostei” (Bragança) não têm a mínima graça quando são traduzidas.
Para minimizar os estragos injustos que provocam os nomes dos lugares, para deixar de marcar as vidas e as carreiras de todos aqueles infelizes da Sarnada (Paredes), de Porca, de Porcas, de Porquetra e de Porquetras, de Porrais e de Porreira, de Pocilgas (Vila do Porto) e da Porcalhota, é necessário adoptar o esquema norte-americano e começar a dar nomes de cidades estrangeiras às centenas de terras com nomes horríveis. Sarilhos Grandes passaria a ser Paris (não Paris, Texas, mas Paris, Montijo), Sarilhos Pequenos seria Versalhes, a Costa da Ervilha seria Istambul-a-Nova, e o Cabeço do Cão Morto seria Viena. Sejamos civilizados.
Três Figos de Baixo (concelho de Monchique) passaria a ser Walton-on-Thames. Saca Bolos, nome absurdo, poderia ser o Luxemburgo. O Fogueteiro seria Leningrado. E por aí fora, no verdadeiro espírito universalista que nos caracteriza. Assim é que não. Temos a corografia mais ridícula da Europa.
Os Portugueses adoram estas coisas, mas elas não podem continuar. Aliás, a própria CEE certamente não irá permitir.
No Ano Europeu do Ambiente, há pelo menos um sítio onde seria indispensável realizar uma conferência internacional - é em Sujeira, no concelho de Coimbra. Para não falar do absurdo que é ter dez Infestas, o que já ultrapassa qualquer infestação, sem contar com os São Mamedes e os São Raimundos da mesma. Como se tudo isto não bastasse, há ainda uma indesculpável aldeola no concelho de Ferreira do Zêzere chamada Infestinos.
Claro que há algumas hipóteses mais positivas. Por exemplo, seria um êxito organizar um concerto da Tina Turner em Pretarouca, no concelho de Lamego. Há terras com nomes que parecem títulos de livros de Eugénio de Andrade, como Ferido de Água (concelho de Paredes). Há saldos de todas as espécies. Toda a gente conhece o Vale de Pegas (Albufeira) e a Venda das Raparigas (Alcobaça), mas há lugares mais especializados como a Venda da Luísa (Condeixa-a-Nova) ou a Venda da Gaiata (duas em Tomar, uma em Pedrógrão Grande) e ainda lugares lamentavelmente racistas, como seja a infame Venda dos Pretos, em Leiria. Com nomes destes, nunca haveremos de ir a lado nenhum.
O desenvolvimento não se compadece com estes barbarismo e idiotismos. Não haverá fundos regionais para sítios chamados Fofim de Além e Fofim de Aquém (Vila Nova de Gaia), Fonte do Judeu Morto ou Marmelar? Mesmo as terras com formas verbais (as minhas predilectas) como “Farto” (Arcos de Valdevez) e “Gostei” (Bragança) não têm a mínima graça quando são traduzidas.
Para minimizar os estragos injustos que provocam os nomes dos lugares, para deixar de marcar as vidas e as carreiras de todos aqueles infelizes da Sarnada (Paredes), de Porca, de Porcas, de Porquetra e de Porquetras, de Porrais e de Porreira, de Pocilgas (Vila do Porto) e da Porcalhota, é necessário adoptar o esquema norte-americano e começar a dar nomes de cidades estrangeiras às centenas de terras com nomes horríveis. Sarilhos Grandes passaria a ser Paris (não Paris, Texas, mas Paris, Montijo), Sarilhos Pequenos seria Versalhes, a Costa da Ervilha seria Istambul-a-Nova, e o Cabeço do Cão Morto seria Viena. Sejamos civilizados.
Três Figos de Baixo (concelho de Monchique) passaria a ser Walton-on-Thames. Saca Bolos, nome absurdo, poderia ser o Luxemburgo. O Fogueteiro seria Leningrado. E por aí fora, no verdadeiro espírito universalista que nos caracteriza. Assim é que não. Temos a corografia mais ridícula da Europa.
Este é o segundo extracto de uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, "Nomes da nossa terra que urgiria esquecer", que vem incluída na compilação "Explicações de Português", 2ª ed - Novembro de 2001, Assírio & Alvim, pp. 231-241.
Comentários
Muito trânsito... muitos stands, oficinas, comércio... congestionamentos, atropelamentos...
todos os dias passo por lá duas vezes... na ida e na volta! ahah