Seja bem vindo ao inferno

Mapa do Inferno de Dante. Ilustração de Sandro Botticelli (século XV).

“À grande e à Francesa?” Não é à Francesa. Quem conhece um pouco da Europa sabe que os espaços comerciais de grande dimensão estão em regressão e, em alguns países (com tradição de grandes armazéns), sempre tiveram uma expressão proporcional à população e dimensão em questão. Todavia, mesmo nestes, a localização “tradicional” do centro comercial respeitava uma geografia definida, sita normalmente em nós de saída para vias principais, em áreas, de cariz suburbano (pelo menos).
Em Braga, Portugal (não é África), nada disto foi sequer considerado (grande parte das decisões urbanísticas são tomadas em jantaradas), previsto, ou, à falta de melhor, “temperado”, aproveitando a história da cidade e os seus eixos normais de crescimento. Fez-se, em muitos casos, tábua rasa e começou-se do zero. Com consequências.


O arrojo do “moderno”, outrora ainda travestido de ideal de “desenvolvimento” revela-se agora despido de preconceitos, e avança inexoravelmente para a betonização total da cidade. Na semana passada soubemos que a Comissão Regional (criada, em 2004, pela Grande Área Metropolitana do Minho para analisar pedidos de licenciamento de superfícies comerciais), tem em agenda a apreciação de dez novos “espaços” comerciais no distrito de Braga. QUATRO (Fórum Teatro de Braga, em S. Vicente, o Espaço Braga, na mesma freguesia, o Dolce Vita, em Dume e Braga Oulet, em Maximinos) dessas superfícies localizar-se-ão no concelho de Braga, três das quais, em plena cidade. O vice-presidente da associação comercial de Braga (ACB), Mário Santos, em declarações ao JN (25 Julho, sem link), afirmava que Braga apresenta uma média de 1,2 metros quadrados por Habitante, enquanto que a média europeia é cerca de …0,2!
Soubemos no dia seguinte que um destes espaços já foi licenciado (Espaço Braga). O Dolce Vita estará preso por detalhes. Parece que os empreendedores se esqueceram do estudo de impacto ambiental (Não seja por isso).
Aspectos relacionados com o tecido económico do concelho, a proximidade das cidades e dos espaços comerciais, o ambiente e ordenamento do território, não participam nos jantares. O urbanismo, parece que sim, na sua vertente URBANIZAÇÃO.

Comentários

Rogeriomad disse…
Muito bem dito...

É uma vergonha...
Este artigo está relacionado com o artigo de Eduardo F.:
http://georden.blogspot.com/2007/06/o-desenvolvimento-continua.html

Neste caso, a cidade de Guimarães como alvo das objectivas!

É de facto, preocupante.
O Lúdico/Comercial estará a substituir o Textil/Industrial?

É isso que pensam?
Rogeriomad disse…
Depois do Fórum Algarve e Algarve Shopping, no Algarve também estão previstos novas grandes superfícies: Tavira e Olhão.

Mas penso que noutra dimensão, pois o mercado algarvio é mais pequeno que o mercado minhoto. Mas no Verão vale bem a pena! eheh Encher o papo como a formiga e depois hibernar...

O último parágrafo está fabuloso. E cito a última frase:
"O urbanismo, parece que sim, na sua vertente de Urbanização!"

eheh :)
é mesmo isso...
Infelizmente ainda confundimos urbanismo com urbanização...
Anónimo disse…
O mal é geral!!!! Não é só em Braga, todo o país está à mercê dos "betonizadores"...
Vidal disse…
Refira-se que o artigo nem sequer foi exaustivo. Apenas se refere a construções de raiz. Mas a coisa não fica por aí, porque existem várias ampliações em curso, nomeadamente do Braga Parque e de algumas unidades comerciais na área do retalho (hiper e super).
Não esquecendo as urbanizações em volta.
Rogeriomad disse…
Pois... exactamente...
tal como o Guimarães Shopping que já responde com obras de ampliação aos anuncios do "Guimarães Plaza" (Azurem) e "Espaço Guimarães" (Silvares). Se nao estou errado...

abraço

Rogério
Anónimo disse…
Se por um lado, temos um excesso parolo de centros comerciais e neunhum respeito pelo crescimento das cidades, por outro, o modelo escolhido assenta nas construção.

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