You've come a long way, baby
Desabafo no domínio do hipotético-filosófico.
A primeira questão para propor o tema pode tão-só traduzir-se nestes moldes:
Qual a relação entre a dimensão de um ser vivo e o número de exemplares de seres vivos dessa mesma espécie?
E estoutra, já centrando-nos mais na coisa:
O que é mais fácil alimentar, um animal grande ou um animal pequeno?
Poderemos argumentar que - mas é apenas nisto que entronca a resposta - o grau dessa facilidade dependerá sempre da disponibilidade de alimento no meio em que esse animal estiver inserido.
Pois, mas contra-argumentando, temos a experiência de que alimentar um doberman é bem mais dispendioso que alimentar um gatinho. Certo? Isto prender-se-á com a dimensão dos dois bichos?
Adiante.
Os seres vivos mais abundantes no planeta são de que dimensão? Grandes ou pequenos?
Bactérias, micróbios e insectos são bem abundantes.
Também há muitos peixes.
E árvores.
Estamos, no fundo, a falar de biomassa.
Será possível contabilizar o número de seres de uma espécie? Talvez apenas em populações já reduzidas. Daí ouvirmos dizer que a perda de um exemplar é uma grande perda. Porque relativamente ao total, representa muito.
Mas andam os cientistas, biólogos e zoólogos a contar tudo o que se mexe por si próprio aí pela Terra?
Por isso, esta é uma crónica hipotético-filosófica.
Assim, continuemos.
Maior esforço tem a baleia para se alimentar e sustentar o seu enorme corpo, apesar de - ou por causa disso mesmo! - se alimentar de seres pequeninos (plâncton e zooplâncton, certo? Esperamos não andar aqui a dar calinadas de todo o tamanho e a comprometer a credibilidade de quem apenas quer propor silogismos...).
Quantas baleias há no oceano?
Quantas restam?
Meus amigos, ouvi um biólogo um dia dizer algo parecido com o seguinte (ou fui eu que assim o retive desde aí):
A história da extinção das espécies é um contínuo decrescer no tamanho dos seres que vão desaparecendo.
Não vamos falar nos dinossauros, cuja extinção ainda se crê não ter sido progressiva (sempre falando numa escala humana) mas súbita.
Os mamutes, os rinocerontes, os leões, os macacos...
Porque é a espécie humana tão abundante no planeta?
A que custo?
Quantas espécies mais pequenas se multiplicam para o sustentar (no caso de haver um equilíbrio na Natureza)?
Quantos animais ainda há maiores que nós?
Não sei se estais a acompanhar o raciocínio que anda por aqui escondido.
Sem saber explicá-lo muito bem, em breve só restarão moscas e outros ínfimos bichos.
E isso não é diversidade sustentável.
Até lá e pelo caminho muitos corpos irão tombar.
O optimista "Hasta aqui hemos llegado."
está a dar lugar ao catastrofista "You've come a long way, baby..."
São os tempos que sopram.
A ventoinha que inventámos para nos dar frescura produz, sem outra hipótese, necessariamente, calor com o consumo de energia.
E pergunta o inteligente:
Não seria melhor suportar a vida sem ventoinha "at all"?
"Que é vai ser hoje?
Acho que vou experimentar tubarão. Nunca comi.
..."
É como termos uma fila de animais e nos perguntarem qual é não merece viver.
"Acho que me apetece matar aquele."
Toneladas de peixe todos os dias, assim o anunciam.
Multiplicado pelo número de estabelecimentos no país.
Multiplicado pela rapidez do consumo.
Subtrai-se a lentidão da recuperação das espécies.
E no fim, o que temos?
Temos apenas um slogan temporário.
Mas numa escala que não assusta o efémero Homem.
Para trás deixou a extinção.
E contente é aquele que se atira, cumprida a sua missão, para a mesma fogueira.
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