Espezinhados na maratona
A precariedade laboral é equivalente à fragmentação e ao esboroamento do território.
Linhas ténues como ferrovias ao abandono com os sitiados acoplados ao apodrecimento.
As notícias a nu, cozidas a frio:
O trabalho temporário já representa quase ¼ da força produtiva do país.
Festa!
O Pingo Doce mudou de sede fiscal.
Suíça!
Iupi!!
Vêem
uns sinais inequívocos da retoma da economia onde apenas medra a
precariedade, a negação de possibilidades e o cerceamento do médio
prazo.
O salário médio salário
destes trabalhadores precários está um pouco acima do salário mínimo,
sendo 33 euros mais baixo para as mulheres (em relação aos homens). E a
diferença é ainda maior para os mais jovens (em relação aos mais
velhos).
Poupam uns trocos os
patrões. Poupam uns patrões uns trocos. Patrocinam uns trocos os
patrões, à custa de uns milhões que não podem pensar noutra estranha
forma de vida.
O senhor BESford Salgado vendeu acções e fez umas massas valentes: cotovelinhos para todos!
Falta a carne?
Querias!!
O
mundo laboral continua a ser o prolongamento da regra da história
divisória. Entre oprimidos e opressores, entre quem trabalha e quem
manda trabalhar. Mesmo que também trabalhe, julga-se no poder de tirar
ao outro para juntar para si. E assim é a pestilência da acumulação.
Capital económico, capital humano (o que é isso? Um campo de
concentração repleto de lenha verdinha para novos crematórios?), capital
cultural… E todos caímos ou queremos lá cair. Para alimentar o sistema
moral que tanto dizemos querermos enfraquecer.
Ou, em novilíngua, restruturar.
E
os desmandos do poder político que ajudámos a eleger, todos
contentinhos embebidos na propaganda, baixam os valores para a
atribuição para o Rendimento Social de Inserção (em dois anos foram 116
mil cidadãos a perderem-no: ), o Complemento Solidário de Idosos, o
Abono de Família, inventam descontos sobre os Subsídios de Desemprego e
Doença. Para salvar a economia, a tal economia lusa que está melhor à
custa dos portugueses, que estão pior. Cortam nos portugueses em nome da
economia portuguesa? Ou será da economia de alguns portugueses?
Ganhar o salário mínimo, porque as empresas a isso são obrigadas.
Na
Suíça não aprovaram a existência do SMN pois, argumentam os próprios
trabalhadores e candidatos a tal, isso impediria a contratação para um
primeiro emprego.
Outro problema: a necessidade de ter experiência.
Pescadinha
de boca no rabo a cheirar mal, juntar mais prà acumulação do capital,
mar a demandar que nele se semeie sal, tanto faz e tanto vale, etc. e
tal.
O problema de esperar um filho. A baixa que corre o risco de ser definitiva, pois uma grávida não produz.
A
vida sem ser vivida também é mais barata, mulheres mortas também não
abortam, idosos acamados também são mais sossegados, e um rol de
facilidades.
Querem ter mais filhos?
Este país não é para filhos.
Também não é para jovens.
Também os adultos têm dificuldade em viver cá. Com 47 anos você já só serve para a reforma.
Este país também não é para velhos.
Aguardam a variante dos canos cerrados numa maca, num lar, sob uma ponte ou pior.
Mas
este Verão não abandone os seus idosos. Uma informação do Ministério da
Saúde Pública e da Segurança Social, ministério completamente inventado
do raiz até ao osso.
Durante a sua vida activa não abandone o seu país.
Durante a sua governação não abandone os seus eleitores.
O ganha-pão perde-se nos tabuleiros das pontes que cá vivem e morrem.
Somos as pontes para o poder dos outros. Não conduzimos a nós próprios, não conduzimos a nada. |
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