Para além de toda a ironia
Erguem-se Muros |
Os patos-bravos
são árvores migratórias.
Cucos que expulsaram dos ovos
os ninhos da imaginação.
Ossos do nosso corpo a definhar,
ficamos atrofiados
depois de explodirmos em esporas,
cogumelos sem tempo.
"O mundo é mudo / pertence às cobras / que trepam escadas / no arvoredo"* |
Adormecemos de espectadores
em cefaleias sobretudo oculares,
destruidores do dia,
esvaziadores de lugares.
E as escadas são cobras / a trepar o mundo no arvoredo-mudo... |
andamos faltos
será talvez por já nascermos velhos.
Que as ânsias da juventude
são febre passageira,
diz o sensato,
sensanto,
senhor santo.
Um campo de concentração, sob o olhar da técnica |
nem poderes querer,
transformaram-te também em pato,
via farelo de engorda.
O mais barato
é o que te convém
que o fim do mês
roubou-te já o palato.
O que fica bem
ao teu dente
é o que o teu dente
finca bem.
Deu Deus dentes
a quem não tem posses
e ele não te faz andar prà frente,
prisioneiro dos desejos possíveis...
E todos os dias tropeças
em metáforas incríveis
a que não achas já
qualquer graxa,
Tu!, que estás aquém
do mundo da ironia,
da fantasia,
em agonia.
Um passeio que ficou pelo caminho |
São difusos teus pensamentos transeuntes.
Dizes-lhes olá para mais bem os ignorares
e és tu que te esqueces de migrar,
aclorofílico de brilho azeviche.
Não podes fugir: arfas de cansado.
A ideologia é um jugo
e tu és a bolinha a saltitar
na roleta OMC/OIT
que também pões a girar.
A escola legitima
e passa certidão às desigualdades.
E o produto da subtracção
foi ficares sem vinho,
e sem pão.
Mas com a religião
(de falsas necessidades)
Que só te desanima.
O direito à habitação sucumbe a muros...
...para que enquanto houver pessoas sem casa
possa continuar a haver casas sem pessoas...
Todas as fotografias captadas em Braga (São Lázaro e Fraião) na tarde de domingo de 23.3.2014 por Edward Soja.
* Excerto do poema "A Noite dos Poemas", de António Barahona da Fonseca e cantado por Adriano Correia de Oliveira
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