A quem vai servir o TGV?

Tenho a liberdade de publicar este manisfesto que tomei conhecimento via e-mail. Não conheço o autor, nem a data do seu envio, mas concordo que o investimento português em infra-estruturas ferroviárias deve ser feito de outro modo (não aprofundo as minhas ideias, porque não estão amadurecidas. Vou continuar a investigar).

Já tinha ficado desiludido com a realidade ferroviária portuguesa quando visitei Bélgica/Holanda e há bem pouco tempo voltei a sentir-me igual, quando viajei de comboio por terras espanholas. Ontem quase que chorei (até pedi aos ingleses para me levarem com eles para a Inglaterra) quando olhei para a estação de comboios de Portimão. "Porra! Isto está cada vez mais decadente", pensei eu! Portimão é só a segunda cidade mais importante do Algarve (senão a primeira), o Algarve é só a região mais turística do país, como é possível ter uma linha de caminho-de-ferro naquelas condições? Sabendo que não fica no Algarve, para onde vai parar o dinheiro? (ao "bolso" de quem?)
Digam o que disserem: "Pensem positivo! O fazer português é dos melhores do mundo! Somos bons! Somos isto e somos aquilo! O importante é andar sempre de cabeça erguida... Tornem-se empreendedores, criem o seu negócio, o Belmiro e o Nabeiro são exemplos a seguir, Cristiano Ronaldo é o melhor do Mundo, logo todos os portugueses são ricos como ele, etc..."
Eu digo-vos com todo o optimismo (e sou muito optimista), mas, também, com muito realismo:

"Somos mesmo uns pobrezinhos..."

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Estação de Zaragoza-Delícias, Agosto de 2008.

Deixo-vos, então, o manifesto que recebi:


"A quem vai servir o TGV?
1. AOS FABRICANTES DE MATERIAL FERROVIÁRIO;
2. ÀS CONSTRUTORAS DE OBRAS PÚBLICAS;
3. AOS BANCOS QUE VÃO FINANCIAR A OBRA.

OS PORTUGUESES FICARÃO, UMA VEZ MAIS, ENDIVIDADOS DURANTE DÉCADAS POR CAUSA DE MAIS UMA OBRA MEGALÓMANA!

Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o bilhete, dá consigo num comboio que só se diferencia dos nossos "Alfa" por não ser tão luxuoso e ter menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas. Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemáticos pelos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos. Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza. A resposta está:

- na excelência das suas escolas;
-
na qualidade do seu Ensino Superior;
- nos seus museus e escolas de arte;
- nas creches e jardins-de-infância em cada esquina;
- nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.

Percebe-se bem porque não:
- construíram estádios de futebol desnecessários;
- constroem aeroportos em cima de pântanos;
- nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.

O TGV é um transporte adequado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo. É por isso que, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, só existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos).
É por razões de sensatez que não o encontramos:
- na Noruega;
- na Suécia;
- na Holanda;
- e em muitos outros países ricos.

Tirar 20 ou 30 minutos ao "Alfa" Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País. Para além de que, dado ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.

Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se:

- 1000 (mil) Escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma);

- mais 1.000 (mil) creches (a 1 milhão de euros cada uma);

- mais 1.000 (mil) centros de dia para os nossos idosos (a 1milhão de euros cada um).

E ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências como, por exemplo, na urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.

Cabe ao Governo reflectir.
Cabe à Oposição contrapor.
Cabe-lhe a si participar
Se concordar, reencaminhe esta mensagem!
"

Comentários

Anónimo disse…
Concordo plenamente eu até nem gosto de comboios.
Edward Soja disse…
Como temos a mania das grandezas só o que é avultado, visível, imediato é que temos no horizonte.

Começamos sempre pelo fim das prioridades. Sim, eu sei que há obras e investimentos que podem ser feitos - e até devem - em simultâneo.

Mas os exemplos apontados corroboram bem o que quero dizer. E como esses, muitos outros. Neste país que nem sequer consegue ter rios decentes!
(E nem vou mais longe...)

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