O Sétimo Selo - Desertificação

Na roleta, o deserto aposta nos homens.
Altair, 29.11.98


Decorre hoje e amanhã o I Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas, na Universidade de Aveiro.

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A propósito, em boa hora regressamos ao tema, com mais um "estrato" do muito didático livro "O Sétimo Selo", de José Rodrigues dos Santos.
(Advertência: o texto que se segue não tem cortes, e pode ser encontrado nas páginas 248 e 249. Se não tem tempo para ler o livro, guarde mais estes ingredientes do futuro na sua cabeça...)


E ninguém vai escapar. O Midwest dos Estados Unidos, por exemplo, tem sido o celeiro da América, está em vias de se tornar um deserto. E o sul da Europa também. As vagas de calor tornaram-se mais frequentes e mais longas e um processo de desertificação gradual já se encontra em curso em Itália, na Grécia, em Espanha e em Portugal, com o Saara a crescer para norte. Isto tem implicações catastróficas. Olha o que se passou com as grandes vagas de calor de 2003 e 2007 no Sul da Europa. Para além de gigantescos fogos que consumiram em Portugal uma superfície florestal do tamanho do Luxemburgo, a onda de temperaturas elevadas em 2003 provocou uma quebra de 20% na colheita de cereais e inflacionou os preços em 50%. E em 2007 ainda foi pior, com temperaturas recorde a provocarem milhares de incêndios na Grécia, na Turquia e nos Balcãs. Dubrovnik chegou a ser evacuada e os gregos tiveram de declarar o estado de emergência em todo o país quando os incêndios descontrolados mataram mais de sessenta pessoas em três dias e chegaram aos subúrbios de Atenas.
- Achas que essas calamidades se vão tornar frequentes?
- Ah, não tenhas dúvidas. Estes incêndios foram apenas o prelúdio do que vem aí e repara que surgem numa altura em que se percebe que o planeta precisa de alimentar nos próximos 30 anos, de modo a sustentar uma duplicar a sua produçãopopulação que deverá duplicar em 60 anos. O problema é que a desertificação, a erosão dos solos e a salinização estão a reduzir a terra arável a um ritmo de 1% ao ano. - Inclinou a cabeça para sublinhar este ponto. - Um por cento ao ano significa 10% em dez anos. Há quem diga que, daqui a algumas décadas, metade do globo encontrar-se-á coberto pelo deserto. Os resultados já estão à vista: o crescimento da produção alimentar atingiu o seu pico em meados da década de 1980 e apresenta-se agora em declínio.
- Estás a falar a sério?
- Por que razão pensas tu que estamos tão preocupados? Os modelos mostram que, duplicando o dióxido de carbono na atmosfera, a maior parte dos Estados Unidos estará submetida a graves secas, com o consequente colapso agrícola. Bastará subir um grau pra que apareçam desertos no Nebraska, no Wyoming, em Montana e no Oklahoma. E acima dos dois graus Celsiusm também o sul da Europa estará transformado num deserto. Alguns cientistas franceses, por exemplo, puseram-se a projectar em quanto aumentará a evaporação da água de toda a região mediterrânica quando ocorrer uma ligeira subida da temperatura. Os modelos de computador revelaram que a evaporação diminuirá, o que é surpreendente, uma vez que o calor aumenta a evaporação. Depois de analisarem melhor os dados, os cientistas perceberam que a evaporação irá diminuir pela simples razão de que deixará de haver água no solo: sem água não há evaporação. Isso significa que o Saara cruzou o Mediterrâneo e o sul da Europa estará transformado num deserto. - Acenou com três dados. - O painel da ONU prevê que, se o limiar dos três graus for cruzado, a desertificação poderá conduzir a uma fome generalizada no planeta. A produção agrícola chinesa, por exemplo, entrará em ruptura total, com os campos de arroz, milho e trigo a decaírem 40%.

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Imagem retirada de Ciência Hoje (clique), de um artigo cujo título é:
"Portugal entre os três países mais desertificados da Europa"


Pelo que aprendemos, a "desertificação" não é considerada um risco. Tampouco parece ser uma preocupação. Mas o termo não nos soa a algo já consumado? É um somatório de impactos humanos e climáticos que depois se traduzem no solo. De progressão lenta, vai avançando, como a súbita surdez derivada do ruído em crescendo. Quebrar o ciclo, sair "da cepa torta", consiste em alimentar o solo (de humidade, raízes, consistência, matéria orgânica, coberto vegetal...). Porque se a formação de uns míseros centímetros de solo é processo que demora muitas décadas, é melhor empenharmo-nos já. E em FORÇA!
Sem parecer ir em modas ou em alarmismos momentâneos e amanhã já arrefecidos, essa devia ser uma das prioridades de topo de qualquer Ministério da Defesa e da Administração Interna. Mas é para isso que serve esse ministério?
- Não...
- Não??? Mas, então?! O nome está mesmo a dizer!!!!!
]

(...) (p. 250)
E receio não te ter revelado ainda o pior.

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