E entre 2 x 2 e bê-á-bá...

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
Mas ninguém acusa as margens que o comprimem!
Bertolt Brecht



Ler para relembrarDiário do Minho, 07.09.2008, p.3


Hoje em dia, levarmos com uma notícia destas é quase insólito. Como é que foi possível tamanha razoabilidade?
A questão é mais complexa do que o que parece, mas dito desta forma, espantamo-nos como é que é possível ainda estarmos a discutir as questões básicas da ocorrência de cheias em meio urbano...

Ao ver um mapa, a carta topográfica, o googlemaps alguém já esbarrou com o caminho que o rio Este faz desde que entra na cidade até que sai? Já alguma vez viram curso de água tão recto em tão pequeno percurso? Pois cá por casa, se pudéssemos acelerar como fazemos nas estradas, era neste afluente do Cávado que atingiríamos as maiores velocidades.

É esta a concepção que temos de um rio?
Que querem dizer com essa coisa de margens?

"Renaturalizar o rio para minorar cheias" significa tentar recuperar o original, voltar ao princípio das coisas, aquele que se manteve durante tantos séculos e que subitamente foi quebrado. Significa que é patente a insustentabilidade da forma como planeamos as nossas cidades e o papel que atribuímos aos rios que por elas passam (meros escoadouros de resíduos que queremos é ver longe da vista. Por isso apertamos as margens e as fazemos em cimento - para que não fique cá nada, para que tudo seja levado. E depressa!
"- O mar é muito grande!", vamos ainda dizendo
...)

Renaturalizar o rio? Sim, mas fazê-lo em todo o percurso urbano parece-me muito difícil, pois será necessário demolir alguns prédios (um deles bem recente, na zona junto às piscinas da rodovia) e habitações (observar o que se passa no começo da Rua dos Barbosas. Isto para não mencionar o caso de Celeirós, onde depois de passar bem pelo meio do parque industrial é entubado e parece desaparecer da superfície...
Porque esta é a concepção que vamos tendo dos rios...).

Estão a ver a Câmara a demolir prédios? A mesma que permitiu e sua edificação? Em nome de um rio? E para onde vão as pessoas? Estão a ver?
Mas eu, ainda crente, não me espantaria assim tanto se isso acontecesse.
COMO? - perguntais.
Ora, se isso der para sacar dividendos em indeminizações.
Os interesses empresariais e privados infiltram-se no poder para em nome do interesse público conseguir umas massas... Sabem-na toda!

Ah, mas estou a fazer previsões para amanhã e ainda nem chegamos a ontem!...

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