Algo se perdeu no caminho...



Simular é fingir aquilo que não é
Jean Baudrillard



Neste caso particular, vamos além, não sei bem para onde. Já não basta simular os espaços, cada vez de maiores dimensões (ilhas que simulam penínsulas e continentes, no Dubai), encaixotá-los, prensá-los e servir; é necessário complementar, adornar e simplificar a coisa ao máximo que é o mínimo, a papa. Vamos ter mais, não a ilha de próspero, mas a ilha da/com cultura(?), hotéis e o mar ao lado, por todo lado, como lhe aprouver, sem ninguém a chatear, no seu próprio espaço (re)recriado. Não acreditam? Leiam então isto (os sublinhados são meus):

"Expansão do Louvre a Abu Dhabi"








Já há um milhar de assinaturas contra o projecto e os conservadores do museu admitem mesmo a demissão colectiva. A criação de uma extensão do Louvre na ilha de Saadiyat, em Abu Dhabi, está a agitar o meio cultural francês, que critica o uso do património pelo Estado, a troco de concessões políticas, diplomáticas e comerciais.

"É um movimento sem precedentes num mundo de silêncio", escrevia este sábado o Libération, recordando o "dever de reserva" a que estão sujeitos os funcionários da Cultura. A polémica começou com um artigo de opinião publicado pelo Le Monde, a 13 de Dezembro, intitulado "Os museus não estão à venda".

Assinado por Françoise Cachin (ex-directora do organismo que tutela os museus públicos franceses), Jean Clair (ex-director do Museu Picasso) e Roland Recht (historiador de arte), o texto denunciava o "negócio espectáculo", na senda do exemplo "desastroso" do Guggenheim (ver caixa), de ceder a marca Louvre a um museu "num sítio turístico e balneário, num país de 700 mil habitantes".

O site La Tribune de l'Art lançou uma petição para a "preservação da integridade das colecções dos museus franceses", que reuniu cerca de mil assinaturas, entre as quais as de 70 conservadores ou directores de museus e de 200 historiadores de arte. Francine Mariani-Ducray (directora dos Museus de França) e Jack Lang (ex-ministro da Cultura) vieram a terreiro defender o plano, O Ministério da Cultura não comenta.

Lideradas pelo próprio Palácio do Eliseu - a cooperação com o Oriente ocupa lugar de destaque na agenda do Presidente Jacques Chirac -, as negociações com Abu Dabhi, capital dos Emirados Árabes Unidos, decorrem há mais de um ano. Especulando-se que o director do Louvre, Henri Loyrette, estaria contra. Se tivesse sido consultado.

A propósito dos negócios por detrás desta decisão, o The Guardian lembra que a Emirates Airline encomendou 43 novos aviões franceses Airbus A380. O The New York Times, por seu lado, cita um relatório entregue ao parlamento gaulês, que refere que, de 1996 a 2005, os Emirados Árabes adquiriram armamento de valor superior a dez mil milhões de dólares, incluindo caças Mirage. Segundo o jornal, em De- zembro, um relatório encomendado pelo ministro da Economia aconselhava a França a abandonar "vários tabus" da sua política cultural e a permitir que os museus emprestassem ou vendessem obras de arte.

750 milhões mas nada de nus

A capital dos Emirados Árabes estaria disposta a pagar mais de 750 milhões de euros pela "marca" e Jean Nouvel, avança o The Guardian, seria o arquitecto do futuro Louvre de Abu Dhabi. Mas, tal como o Guggenheim, o museu francês não poderá exibir obras de arte que contenham nus ou cenas religiosas. E duvida-se de que as verbas entrem nos seus cofres. O Louvre pretende abrir, em 2009, mais uma ala, dedicada à arte islâmica (um príncipe saudita doou 17,3 milhões de euros).

A política expansionista do Louvre começou com o plano para abrir, em 2008, uma sucursal na cidade francesa de Lens. O passo seguinte foi o acordo com o High Museum de Atlanta, válido por três anos e iniciado em 2006, para empréstimo de obras de arte em troca de 6,4 milhões de dólares - destinados a renovar galerias de artes decorativas.

A internacionalização das instituições francesas também passa pelo Pompidou (Chirac acordou com a China abrir uma filial em Xangai) e pelo Museu Rodin (que terá uma extensão em São Paulo, Brasil). E a própria Sorbonne, facto inédito em 750 anos de história, inaugurou em Novembro um pólo no estrangeiro. Em Abu Dhabi.


Diário de Noticias -8 Janeiro 2007-Paula Lobo

Afinal tudo se resume a dinheiro? Não, ou melhor, nim! Mesmo o negócio finge. A liberdade, a sua, a nossa, é total, basta não expor nus,cenas religiosas. Basta não falar de direitos do homem ou das condições de trabalho dos homens que ergueram as infra-estruturas. Basta não olhar, ou pelo menos, não ver. Será isto cultura? É isto civilização?


Mais uma vez o Eça quando afirmou mais ou menos isto(de memória): Vimos de onde vocês vêm, vamos para onde vós não estiverdes.


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