Os peixinhos já sabem, os peixões não ouvem

O jornal Público deu conta de um estudo, "Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde", em que Ricardo Antunes, o autor, compara processos clínicos de pessoas que morreram num mesmo ano (2004) mas em diferentes lugares de Portugal.

Os lugares (com um hospital, claro), que se quiseram diferentes, foram Lisboa e Beja.

Sem apresentarmos aqui quaisquer ilações (das quais a notícia apenas fornece um cheirinho), pensemos em como será o historial da vida dos miúdos em idade escolar para os quais, face a dificuldades económicas, sai muito mais em conta comer alimentos enlatados, empacotados, conservados, com altos teores de açúcares, sal e conservantes.

Sim, entre poder comer muito e poder comer (pouco, já se vê) vai uma diferença económica, que a classe ajuda a caracterizar, no seu poder de engavetamento e imobilização - real - das pessoas. (Na chamada Pirâmide social...)

Entre poder comer bem e comer outra diferença substancial vai.
E outra ainda entre poder aceder a (comer!) alimentos de agricultura sustentável e alimentos produzidos em série e sem quaisquer medidas de salvaguarda (da vida, ambiental, animal e humana).

Peixão com o peixinho na mão...
Imagem retirada daqui

Pela boca morre o peixe.
Ninguém lhe aponta uma arma, ilibando-nos a todos do seu assassinato.
Mas temos que compreender que o indivíduo é também um produto da sociedade.
E esse corpo humano, intergeracional, multiclassificado (isto é, com várias classes), vai definhando mais aqui que ali, mais neste momento que noutros.

Os resultados e as consequências é hoje que se jogam.
E se nós já vemos os problemas de comunicação que os novos mal-ensinados, não-ensinados têm para connosco (na comunicação oral e na escrita; na capacidade de produzir discursos articulados e com sentido, em frases com princípio, meio e fim...) estamos à espera das análises que este sistema destruidor está a engendrar há anos e anos. Como para nos dizer que, sim, nós tínhamos razão: isto não é vida que se aguente.
Porque o Capitalismo é contra-natura.

Comentários

Mensagens populares