100 Anos: 2 Rupturas, Um Repto

Auto-retrato (cerca de 1940)
Extraído da página sobre O Geógrafo


Galopim de Carvalho, obviamente (já lá iremos a este obviamente), não se esqueceu do mestre.

A propósito dos 100 anos do nascimento de Orlando Ribeiro (sim, 16 de Fevereiro de 1911), achámos por bem aproveitar a deixa amarga (ameixa amarga) com que ficámos depois de assistirmos ao documentário do último domingo.

Ah,
só por acaso,
(Primeira Ruptura):
Para a Geografia em Portugal existe um antes de Orlando Ribeiro e um depois de Orlando Ribeiro.


A deixa amarga (pêra agridoce) foi ouvirmos o sociólogo-fotógrafo-ex-ministro-da-agricultura(-e-da-reforma-agrária...) Álvaro Barreto dizer com muita paixão e serenidade que (mais ou menos de cor e ouvido o cito):


"«Portugal, o Mediterrâneo e O Atlântico» é um livro fascinante que nos diz muito daquilo que somos. Um dos grandes livros de literatura - científica, obviamente, mas - da literatura portuguesa. Devia ser obrigatório [exceptuando a verdade, nesta última frase a nossa memória já deve estar a enfiar-nos um barrete, sr. Barreto...] nas escolas."


É tão bom ouvirmos e sentirmos a paixão
("Como são duras as pessoas felizes", não é?)
quando não se conhece a crua e triste realidade...


Ide à procura.
Ide.
Buscai, como o pau vai atrás dum cão.
...
Depois ficamos a saber um bocadinho mais e é aqui que as coisas se tornam azedas.
O dito livro, editado originalmente em 1945, pela Coimbra Editora, teve a sua mais recente reedição em... - adivinhem lá, conquanto imaginem o que estes escassos anos significam em termos editoriais neste país... - 1998 (a sétima edição). Reeditado por uma editora, Sá da Costa, que - ao que parece - já não existe.

Título: Portugal, O Mediterrâneo e o Atlântico
Autor: Orlando Ribeiro
Edição: 1989 (4ª ed.)
Paginação: 186 pp.
Editora: Sá da Costa


Sim, obras artísticas e culturais, que enformam a história das regiões e dos povos, estão... inacessíveis às pessoas.
Mas... Sim, a verdade é que, quem quiser, por muito pouco (a ElectricidadeDestePaís bate palminhas), podemos ler este livro - gratuitamente - nesta ligação da Biblioteca Nacional (notem bem, "Cópia Pública").

Só que - não aproveitemos subterfúgios - sabemos bem...
ler um livro nas mãos continua a ser substancialmente diferente de o ler num suporte electrónico.

E não venham cá com tretas nem alijamento do dever da exigência:
O menosprezo pelo esforço e pelas expressões científicas e/ou artístico-culturais (discos e livros...) que grassa nos principais zeladores da sua autonomia (sim, o Estado, como nosso representante, pulsão e propulsionador das nossas vontades) é

- "A minha pátria é a língua Portuguesa" -

ponto de ruptura para a perda da identidade e da existência de um povo.
Quereis destruir um povo?
Começai pela sua língua.
(Esta é a SREC: Segunda Ruptura, Em Curso)

Como se pode amar alguma coisa sem a conhecer? (nem odiar nos é permitido...)
Partilhar o que é bom é um dever de todos os que têm a sorte de tomarem contacto com o bom.
São valores. Que nos fazem e aos quais devemos emprestar o nosso empenho e paixão.
A cultura, como o amor, é de enorme responsabilidade para com o outro.
Responsabilidade individual e colectiva. E uma porque a outra e vice-versa.

Galopim de Carvalho, tendo tais valores e prezando tais valores, obviamente pratica-os: exprimindo-se, lembrando-se, partilhando as suas impressões, memórias.
Com o outro: nós, que o lemos.


(O Repto)

O senhor António Barreto, que, quase de igual forma óbvia, estimamos,
gere uma equipa de fantásticos senhores cujo trabalho (que o Georden já mencionou aqui) é imprescindível para mais bem nos conhecermos enquanto pessoas, sociedade e pessoas e sociedade entre sociedades e outras pessoas,
é responsável por uma fundação que tem lançado uns ensaios (guias-de-sobrevivência: lucidez) de também imprescindível valor...

bem podia promover - defendendo publicamente - a edição - de tal interesse nacional (não é só o cimento que é de interesse nacional...) - levada a cabo pelo Ministério da Cultura - do dito livrinho.


Amigo Barreto, faça isso por nós.
Para partilharmos dessa paixão que tanta água na boca sedenta nos deixou.


Aos sedentos, felizmente, não lhes falta a sede:
partilhemos Orlando Ribeiro e muitos outros que reflectem sobre o mundo que nos rodeia e nos faz.
Somos mais nós.

Comentários

Anónimo disse…
Álvaro ou António Barreto?
Edward Soja disse…
António, caro amigo.

Vamos já corrigir e obrigado pelo reparo.

:)

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