Virtual e Real - II: Poder

Continuamos com mais um "estrato" do livro Amor Líquido, de Zygmunt Bauman.


Os verdadeiros poderes que moldam as condições sob as quais todos nós agimos hoje em dia fluem num espaço global, enquanto as nossas instituições de acção política permanecem, no seu conjunto, presas ao chão; elas são, tal como antes, locais.
Por continuarem principalmente locais, as agências políticas que operam no espaço urbano tendem, fatalmente, a ser atormentadas por uma insuficiência de poder de acção (...)

Expulsa do ciberespaço, ou tendo o acesso a ele negado, a política recua e reflecte sobre os assuntos que estão "ao alcance", sobre questões locais e relações de vizinhança.

É somente nas questões locais que a nossa acção ou inacção "faz diferença" enquanto nas outras, reconhecidamente supralocais, "não há alternativa" (ou, pelo menos, é o que repetem os nossos líderes políticos e todas "as pessoas que estão «por dentro»").

As cidades tornaram-se depósitos de lixo para problemas gerados globalmente. Os moradores das cidades e os seus representantes eleitos tendem a ser confrontados com uma tarefa que nem por exagero de imaginação seriam capazes de cumprir: a de encontrar soluções locais para contradições globais.

Como Castells insinua (...), a criação do espaço dos fluxos estabelece uma hierarquia (global) de dominação mediante a ameaça de desengajamento. O espaço dos fluxos pode escapar ao controlo de qualquer localidade, enquanto (e porque!) o espaço dos lugares é fragmentado, localizado e, portanto, crescentemente destituído de poder diante da versatilidade do espaço dos fluxos. A única hipótese de resistência das localidades consiste em recusar direitos de propriedade a esses fluxos esmagadores... - apenas para os ver atracar na localidade vizinha, provocando o desvio e a marginalização de comunidades rebeldes.

A política local - e em particular a política urbana - tornou-se desesperadamente sobrecarregada, muito além da sua capacidade de carga / desempenho. Agora espera-se que alivie as consequências da globalização descontrolada usando meios e recursos que essa mesmíssima globalização tornou lamentavelmente inadequados.

pp.129-131

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