Olhos maduros



Há muitas vezes, no discurso publicado, entre a rigidez e a missão de nos "in-formar" (de nos manipular), certos erros que prendem a nossa atenção. Deliberados, para nos condicionar o pensamento, ou por desleixo, o comunicador (texto, pessoa, locutor) continua a falar para nós mas... ALTO! já lá não estamos.

Aquela palavrinha levou-nos para outras paragens.

Costuma acontecer-me quando nos telejornais se põem a falar, como é hábito, de assuntos cuja captação não é da sua responsabilidade (por exemplo, aqueles "diversos" que sempre acabam por vir das grandes cadeias de televisão. E nós, pequeninos, sem correspondentes nem repórters, e com escassos meios de fazermos esse trabalho por nós, limitamo-nos a ser correias de transmissão do que veio lá dos "altos poderes"). Ora, nesse processo de "adaptação / transição" costuma haver uma palavrinha que... humm... não soou lá muito bem. Sim, estou a falar de erros de tradução, de palavras que, na mesma frase, não costumamos empregar (substituimo-la por outra), ou de erros de concordância - e pensamos...

- Pronto, já te descobri a careca:
estás a ler um texto traduzido.

É aí que deixamos de prestar atenção ao embalo e à musiquinha que estavam a dar-nos e o pensamento se desprende, descola do plano.

Estes são os casos de desleixo. E por oposição vemos que todos os esforços se concentravam em fazer-nos engolir o bolo, de princípio ao fim, sem o notarmos. Mas... aquela palavrinha fez falhar todo o processo.

Outros casos há que são deliberados e dependem muito da inteligência de quem comunica. Faz parte da intenção do comunicador pôr ali aquele perlimpimpim, aquele adjectivo, aquela entoação... para nos fazer pensar. É deliberada a intenção de nos fazer reflectir.

Ora, como já deveis ter percebido, é destes casos que me interessam. São posturas extremamente didácticas que furam o esquema dos média, com e através dos próprios média. E com isto espero não estar a deixar cair esta estratégia nas mãos do inimigo, ao ponto de um dia nos inquirirem sobre a palavra mais insignificante que tenhamos proferido. Assim, à maneira de um "1984".

Daqui o vídeo que vos trouxemos.
Faz-nos pensar. Isso já é muito.

Para o mundo de consumir, muitos mundos estão a montante. Sobre os quais raramente reflectimos.

Podemos perguntar-nos, com atitude patriota ou não ("consumo o que é nosso"), de onde vem aquilo que vamos comer. Mas pouco mais podemos saber, no imediato, sobre "o que está por trás".

Mas o mais importante da pergunta "de onde vem?" é, não necessariamente o lugar, mas o "como chegou até aqui?", o "o que foi preciso, quantos custos ambientais e sociais, para isto chegar até aqui".

É possível ver mais além do reduzido ponto de vista que necessariamente temos. É possível, e estas formas amadurecem-nos o olhar.


A propósito de tomate, uma vez vi um documentário italiano a falar de um dos rios mais poluídos da Europa. Não me lembro agora de qual, mas esse rio, todos os dias levava com toneladas de águas de lavagens de tomate para conservar em lata. E que esses detritos até se viam na foz, nas profundezas do mar.

Fica a reflexão.

(Ah, se alguém souber de que rio italiano (drenava para o Mediterrâneo) se trata, por favor, que "nos informe". Obrigado.)

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