O "Drugstore"

Continua a errância, em postas, pelo Livro do Mês: "A Sociedade de Consumo", de Jean Baudrillard. Este, sobre o "drugstore" observa que: 

A síntese da profusão e do cálculo é o “drugstore” (ou os novos centros comerciais), que realiza a síntese das actividades consumidoras, entre as quais a menor não é o “shopping”, o “flirt” com os objectos, a errância lúdica e as possibilidades combinatórias. A este título, o “drugstore” é mais especifico do consumo moderno que os grandes estabelecimentos (…) o “drugstore” possui outro sentido diferente; não justapõe categorias de mercadorias, pratica a “amálgama dos signos”, de todas as categorias de bens considerados como campos parciais de uma totalidade consumidora de signos. O centro cultural torna-se nele parte integrante do centro comercial. 

Não vamos pensar que a cultura se “prostitui” no seu interior; seria demasiado simples. “Culturaliza-se”. Ao mesmo tempo, a mercadoria (vestuário, especiarias, restaurantes, etc.) culturaliza-se igualmente, porque surge transformada em substancia lúdica e distintiva, em acessório de luxo, em elemento no meio de outros elementos da panóplia geral dos bens de consumo (…) pode fazer “shopping” agradável no mesmo local climatizado, comprar de um só vez as provisões alimentares, os objectos destinados ao apartamento e à casa de campo, os vestidos, as flores, o último romance ou a última quinquilharia, enquanto maridos e filhos vêem um filme ou almoçam todos ali mesmo, etc.” café, cinema, livraria, auditório, bagatelas, vestidos e muitas outras ainda nos centros comerciais: o “drugstore” consegue compendiar tudo de maneira caleidoscópica. 

Se o grande estabelecimento fornece o espectáculo feirante da mercadoria, o “drugstore” propõe, da sua parte, o recital subtil do consumo, cuja “arte” consiste toda precisamente em servir-se da ambiguidade do signo nos objectos e de sublimar o seu estatuto de utilidade e de mercadoria pelo artifício de “ambiência”: neocultura generalizada, em que cessa a diferença entre a especiaria fina e uma galeria de pintura, entre o “Play-Boy” e um “Tratado de Paleontologia”. O “drugstore” modernizar-se-á ao ponto de oferecer “matéria cinzenta”(…). No entanto, não se procura adular a clientela. Propõe-se-lhe, de facto, “alguma coisa”: No segundo andar funciona um laboratório de línguas, entre os discos e os livros encontram-se as grandes correntes que despertam a nossa sociedade. Música de vanguarda, volumes que explicam a época. É a “matéria cinzenta” que acompanha os produtos(…). O “drugstore” é capaz de transformar-se numa cidade inteira (…).

adenda: já adivinharam o ano ou a década em que esta obra foi escrita???

Comentários

Edward Soja disse…
Ora nem mais. E aumentando a oferta numa amálgama de cores, cheiros, sabores, alusões e excitações, potenciam as compras.

"(...) o valor interessa-se exclusivamente pela sua própria QUANTIDADE. Torna-se-lhe indiferente saber quais os valores de uso que lhe servem de suporte, de "corpo de mercadoria": trigo ou sangue contaminado, livros ou jogos de vídeo, tanto faz. A socialidade fica provada de qualquer conteúdo concreto, e a relação social fica reduzida à troca de quantidades (...)"

In "As Aventuras da Mercadoria", de Anselm Jappe, p.57
Rogeriomad disse…
Os nossos Fóruns serão um "Drugstore"?

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